22/03/2008

Inspiração: Banco de Tempo / Favores em cadeia


Mais uma vez, sinto-me inspirada por algo que tomei conhecimento pela televisão. Já passou muito tempo desde que ouvi pela primeira vez a expressão "banco de tempo", mas foi um conceito que nunca mais esqueci.

Automaticamente faz-me recordar o filme "Favores em cadeia", história comovente, onde Trevor desencadeia uma reacção em cadeia de bondade para o seu projecto escolar de Estudos Sociais, levando os personagens menos prováveis a envolverem-se e, a mudar a vida de todos quantos participaram.


"O Banco de Tempo é um banco em tudo igual aos outros. Tem agências, horário, cheques, depósitos e a particularidade de utilizar o tempo como moeda de troca.
O Banco de Tempo funciona da seguinte forma: qualquer investidor que esteja disposto a dar uma hora do seu tempo para prestar um conjunto de serviços, recebe em retribuição uma hora para utilizar em benefício próprio.


Objectivos
- Apoiar a família e a conciliação entre a vida profissional e a vida familiar através da oferta de soluções práticas da organização da vida quotidiana.
- Construir uma cultura de solidariedade e promover o sentido de comunidade, o encontro de pessoas que convivem nos mesmos espaços, a colaboração entre gerações e a construção de relações sociais mais humanas.
- Valorizar o tempo e o cuidado dos outros, estimular os talentos e promover o reconhecimento das capacidades de cada um.
- Promover a cooperação entre várias entidades públicas ou privadas.


Princípios
- Todos temos algo a dar e a receber: obrigatoriedade de intercâmbio. O Banco de Tempo não é uma estrutura em que se dá sem receber em troca, nem em que se recebe sem dar nada em troca.
- Não há troca directa de serviços: o tempo prestado por um membro é-lhe retribuído por qualquer outro membro.
- Troca-se tempo por tempo: a unidade de valor e de troca é a hora.
- Todas as horas têm o mesmo valor: não há serviços mais valiosos do que outros, nem escalas de valor de serviços. O serviço prestado não tem de ser igual ao recebido.
- A circulação de dinheiro só é possível para reembolso, previamente acordado, de despesas específicas e documentadas.
- Os serviços prestados correspondem a actividades não profissionais que se realizem com gosto: a troca assenta na boa vontade, na lógica das relações de "boa vizinhança".


Regras de funcionamento


- Quem pode aderir? Podem ser membros todos os que se interessem e empenhem nas actividades do Banco de Tempo. Os menores deverão ter autorização do respectivo Encarregado de Educação.
- Como se tornar membro? Basta ir a uma entrevista na agência, tomar conhecimento do modo de funcionamento do Banco, preencher uma ficha de membro (indicando dados de contacto, pessoas de referência e serviços a oferecer e a pedir) e declarar cumprir as Regras de Funcionamento. Receberá um cartão de membro, cheques e uma listagem de serviços disponíveis na agência.
- O que é que se paga? Todos os membros têm de pagar anualmente uma quota de 4 horas, que vai para a "conta" da Agência.
- Como trocar? Quando alguém precisa de um serviço, contacta a agência. A agência vai procurar um membro que o possa realizar e em seguida procura a melhor forma de pôr ambos em contacto.

Na altura da troca, ambos deverão apresentar os respectivos cartões de membro.
- E quando não se está disponível? Quando contactados pela agência para saber se podem prestar um serviço, os membros podem dizer que não estão disponíveis. Não são obrigados a aceitar o serviço. Mas, quem aceitou realizar um serviço compromete-se na prestação do mesmo, pelo que, caso não o possa fazer, deve informar o membro que está a contar consigo e/ou a agência.
- Como é feito o pagamento do serviço? No fim da troca o pagamento do serviço é feito através de cheque, em função do número de horas. Quem recebeu o cheque deverá enviá-lo à agência para que sejam feitos os movimentos às contas. Note-se que a hora é divisível em meia hora, fazendo-se um arredondamento por excesso (mais que 15 minutos), ou por defeito (menos que 15 minutos).
- Quando é que se tem de dar/pedir? O primeiro passo é pedir, porque só assim pode haver uma troca. O limite máximo de diferença entre horas recebidas e oferecidas é de 20 horas.



Exemplos de serviços que podem ser trocados


- Acompanhamento a crianças: Tomar conta de crianças, levar/buscar à escola, ajudar a fazer os trabalhos de casa, brincar
- Actividades recreativas: Andar de bicicleta, caminhar a pé, jogar cartas, ténis, xadrez, animar grupos, tocar música, fazer de guia turístico, animar festas
- Bricolage: Pequenas reparações, arranjos de carpintaria, de electricidade
- Ajuda doméstica: Lavar o carro, a loiça, compras de supermercado, ir ao correio, à farmácia, pagar as contas, limpar o pó, passar a ferro
- Cozinha e Lavores: Fazer um prato especial, cozinhar refeições para congelar, arranjos de costura, bordados, ponto cruz, croché/tricô
- Secretariado e burocracia: Correcções literárias, processamento de texto, preenchimento de documentos, impostos, certificados
- Animais e Plantas: Jardinagem, acolher/tratar de animais/plantas nas férias, ajudar a dar banho a animais (gato, cão, ...).
- Companhia: acompanhamento ao médico, conversar sobre determinado tema, passear pela cidade, contar histórias, ler alto, ir a espectáculos, ao cinema, a exposições
- Lições: ensinar a estudar, a descontrair, dar explicações, lições de jardinagem, informática, línguas, música, olaria, pintura, cozinha, decoração, dança.


O Banco de Tempo em Portugal


"Sensibilização das famílias e da comunidade para a criação de redes de entreajuda, com base em afinidades de vizinhança e de interesses comuns, e apoio à criação de infra-estruturas necessárias para a sua existência".
In "Caderno de Medidas e Recomendações Para a Conciliação Entre a Vida Profissional e a Vida Familiar", projecto Para Uma Sociedade Activa, Graal, 1999


O Banco de Tempo nasceu da necessidade de "criar redes de entreajuda", conforme expresso pelos testemunhos das Audições Públicas realizadas no projecto "Para Uma Sociedade Activa", sendo enquadrado na actividade do Graal na medida em se que propõe estimular, apoiar e organizar iniciativas que visam a criação de novos modelos de vida em sociedade, a valorização das pessoas e a revitalização das comunidades.
O modelo de Banco de Tempo inspirou-se na filosofia dos bancos de tempo que apareceram em Itália no início da década de 90. O Graal começou a trabalhar neste projecto no início de 2001 depois de ter contactado com o conceito, em Barcelona, na Associação Salut Y Família que desenvolve um projecto semelhante em Espanha. Depois de um ano dedicado à criação da infra-estrutura e ao envolvimento de instituições e pessoas, foram lançadas para as primeiras agências no início de 2002.


Conheça mais sobre o Banco de Tempo em http://www.graal.org.pt/Projectos/BancodeTempo.htm#historia


Conheça o filme "Favores em Cadeia":




- Algumas cenas:





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