22/03/2008

Arte que se lê: "Doçaria Regional Portuguesa"


Estamos na Páscoa e, digamos que este é o meu post dedicado a esta época festiva. Bem sei que poderia abordar outras temáticas mais apropriadas talvez, mas pareceu-me ser a altura ideal para acrescentar algo sobre a doçaria portuguesa.


Não obstante o que se festeja, a forma como cada um o faz, as tradições e hábitos de cada família, as diferenças entre gerações, as crenças individuais, em qualquer época festiva ou feriado parece-me que o denominador comum pode bem ser a "mesa farta", onde não faltam iguarias e guloseimas para enriquecer e adocicar a reunião entre amigos e familia.






Breve história da Doçaria Conventual Portuguesa




“Os conventos acolhiam nas suas Regras as filhas da nobreza e das famílias mais ricas que, além dos seus dotes de importantes rendas, traziam consigo hábitos de alimentação e receitas familiares que deram origem a requintadas preparações gastronómicas e a doçaria rica e por vezes complicada.


Guardados ciosamente os segredos das composições e dos métodos de preparação, as receitas eram propriedade do convento que as freiras se comprometiam a ocultar toda a vida.


Durante cerca de setecentos anos, este saber foi-se acumulando e evoluindo com novos ingredientes, mil e uma experiências e a longa prática das monjas que lhes dedicavam intermináveis horas de trabalho, paciência e devoção. Ganhou renome na Europa a doçaria portuguesa, farta de açúcar e ovos. Os requintes da doçaria rica seriam seleccionados para as grandes personalidade e ocasiões de pompa e circunstância.Algumas freiras começaram a tirar partido, muito em especial, das receitas da requintada doçaria pelas quais os seus conventos se tinham tornado famosos.Graças à investigação e “tradução” das notas manuscritas de muitos arquivos dos mosteiros, vieram saindo a publico as maravilhas dos doces conventuais.”


Citado do Roteiro Gastronómico de Portugal.






"Reza a História que o abade de Priscos, céçebre cozinheiro minhoto, terás, um dia, preparado um jantar para D. Carlos e D. Amélia, do qual constava um bolo com a forma de um cortiço de abelhas cheio de doce.


O cortiço era feito de chocolate e cacau, os favos de pudim e as abelhas, na sua cor natural, muito bem dispostas por várias partes, eram também confeccionadas com doce , sendo as suas asas de açúcar em ponto. Por cima do cortiço, foi colocada uma cobertura de colmo, feita de açúcar em fio.


Os convivas ficaram de tal forma surpresos que a rainha levantou-se e decidiu observar a iguaria de perto, interrogando-se sobre a forma como deveria servir-se do doce. O seu espanto redobrou quando foi alertada para o facto de que tudo aquilo era para comer!


Relatos como estes "recheiam", certamente, a história da doçaria tradicional portuguesa, onde os conventos tiveram, sem sombra de dúvida, um papel preponderante.




(...) A doçaria conventual estava dividida em dois grandes grupos: os bolos ricos (doces de colher, bolos de fatia, etc) e os bolos pobres, (bolos secos ou sortidos). Nos dias de abstinência litúrgica, só deviam ser comidos bolos considerados pobres, como, por exemplo, boinhas, esquecidos, raivas, bolachas, biscoitos, melindres, etc. Nos dias em que se podia comer carne, eram privilegiados os bolos ricos, sem recriminação; de entre os quais destacavam-se os manjares, toucinhos-do-céu, covilhetes de amêndoa, queijadas, morgados, pastéis, pudins, etc."


in "Doçaria regional portuguesa", ed. Impala




Neste livro, "Doçaria Regional Portuguesa" apresentam-se doces de norte a sul do país e ilhas. Desde as Clarinhas de Fão de Entre Douro e Minho, às Cavacas de Resende de Trás-os-Montes e Alto Douro, às Sardinhas Doces da Beira Alta, aos Canudos de Leiria da Beira Litoral, às Orelhas de Abade da Beira Baixa, às Fatias de Tomar do Ribatejo, às Queijadas de Sintra da Estremadura, à Sericaia do Alentejo, aos Morgados do Algarve, ao Bolo de Mel da Madeira e ao Pudim de Maracujá dos Açores, estes são só alguns exemplos desta cultura gastronómica.






imagem de pormenor de Pão de Rala do Professor Roberto Barbosa, de quem temos todos muita saudade




Aprenda algumas receitas:








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