24/03/2008

Arte que se lê: "Uma Aventura" de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada


A colecção "Uma Aventura" é incontornável quando se fala de literatura juvenil. A primeira "aventura" - "Uma Aventura na Cidade" - foi publicada pela primeira vez em 1982. Já lá vão 26 anos. A partir do dia 19 de Abril será lançada a "aventura" número 50 - "Uma Aventura no Labirinto Misterioso".

Tenho 28 anos e, para pessoas da minha geração e de todas as outras que se seguiram, esta colecção foi e será sempre responsável por cativar jovens para a leitura.

Os que agora são jovens pais, quererão certamente passar estes livros, da autoria de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada e, com ilustrações de Arlindo Fagundes, aos filhos, aos sobrinhos, a todos os que ainda são miúdos. Deixá-los, como aconteceu connosco, conhecer as gémeas Teresa e Luísa, o Pedro, O Chico, o João e, claro, o Faial e o Caracol e, sobretudo adquirir o gosto pela leitura através destas histórias sempre tão cativantes.

Se por acaso, alguém nunca folheou "uma aventura" não sabe o que perde, mas nunca é tarde, pois os adultos também não são imunes a estas histórias. São daquelas coisas que se gosta para a vida inteira.


Conheça mais a obra e as autoras através da seguinte entrevista:


"1. Quando perceberam que gostavam de escrever?

Ana Maria Magalhães – Percebi que gostava de inventar histórias mesmo antes de saber escrever.

Isabel Alçada – E eu também.


2. Quando escreveram a primeira história?

A. M. M. – Escrevi a primeira história com 9 anos para entreter um dos meus irmãos mais novos, que estava doente e não queria comer a papa.

I. A. - Escrevi a primeira história quando andava no terceiro ano, e fiquei radiante porque a professora leu alto para todos os alunos ouvirem.


3. Ser escritora era um sonho de criança?

A. M. M. – Ser escritora era um dos meus sonhos de criança.

I. A. – Eu sempre que lia um livro e gostava dizia para mim própria que havia de ser escritora.


4. Como se conheceram?

A. M. M. e I. A. – Conhecemo-nos à porta da Escola Fernando Pessoa, em Lisboa, para onde íamos ambas trabalhar pela primeira vez como professoras de Português e História. Foi em Setembro de 1976.Antes de nos apresentarmos na direcção, fomos tomar um café juntas e ficámos amigas.


5. Por que resolveram escrever juntas?

Ambas – Antes de escrevermos juntas preparámos muitas aulas em conjunto e fichas de trabalho, guias para visitas de estudo, etc. Um dia lembrámo-nos de fazer pequenas histórias para uma turma que não gostava de ler. Como resultou bem, mais tarde abalançámo-nos a escrever um livro na intenção de publicar.


6. Qual o primeiro livro que escreveram?

Ambas – O primeiro livro que escrevemos foi Uma Aventura na Cidade. Começámos em Janeiro de 1982 e foi publicado em Novembro do mesmo ano.


7. Por que é que resolveram escrever aventuras?

Ambas – Ambas gostámos sempre muito de histórias com acção e mistério.Além disso, sabemos que a maior parte dos leitores também gosta e que o género agrada igualmente a rapazes e raparigas. Como queríamos cativar para a leitura, pareceu-nos bem começar por livros de aventuras.


8. Escrevem só aventuras?

Ambas – Em 1985 começámos a colecção Viagens no Tempo e a pouco e pouco fomos escrevendo outras, como por exemplo Histórias e Lendas da Europa, os livros da colecção História de Portugal, com o apoio de historiadores famosos. Mais tarde diários para adolescentes, o Diário Secreto de Camila e o Diário Cruzado de João e Joana. Houve também um livro sobre Piratas e Corsários e sobre o Mosteiro dos Jerónimos. Escrevemos também três livros para os leitores mais pequenos, que estão a aprender a ler. Esta colecção já tem os seguintes títulos: O Crocodilo Nini, A Gata Gatilde e O Leão e o Canguru.


9. De qual das colecções gostam mais?

Ambas – Nós gostamos muito de todas as colecções e de todos os livros que escrevemos. Os leitores é que têm revelado acentuadamente preferência pela colecção Uma Aventura.


10. Têm um livro preferido?

A. M. M. – Eu tenho uma pequena preferência pelo livro Uma Aventura nas Férias do Natal, porque de certo modo é autobiográfico.A história passa-se na quinta dos meus avós em Trás-os-Montes; tudo o que acontece ao grupo aconteceu comigo, excepto encontrar bandidos.

I. A. – O meu preferido é Uma Aventura no Bosque, porque se passa em Sintra, terra de férias da minha família. E porque quando tinha doze anos assisti a um pavoroso incêndio que quase destruiu a serra e que me impressionou muito.


11. Por que é que escolheram a editora Caminho?

Ambas – Na verdade foi a Editora Caminho que nos escolheu a nós. Porque antes de irmos à Caminho mostrar Uma Aventura na Cidade fomos a três outras editoras que não quiseram publicar. Só a Caminho apostou em nós.


12. Têm filhos?

A. M. M. – Eu tenho um rapaz chamado Tiago, uma rapariga que se chama Mariana e uma neta chamada Matilde.

I. A. – Eu tenho uma filha que se chama Vera e dois netos, o Bernardo e o Gonçalo. Os nossos netos adoram O Crocodilo Nini, A Gata Gatilde e O Leão e o Canguru. Mas o Bernardo, que é o mais velho, já começou a ler «aventuras».


13. Os vossos filhos costumam ler os vossos livros?

Ambas – Os nossos filhos liam sempre os nossos livros quando eram mais novos. Agora já são adultos mas gostam de acompanhar o que as mães fazem e lêem para dar uma opinião.


14. Têm outra profissão?

A. M. M. – Eu sou professora de Português e História do 2.º ciclo.

I. A. – Eu fiz outro curso em 1984 e agora sou professora na Escola Superior de Educação de Lisboa, onde estudam futuros professores.


15. Conseguem conjugar a vida profissional com a vida familiar?

Ambas – Fazemos questão de pôr a família em primeiro lugar, apesar de trabalharmos muito. Isso obriga a uma boa organização de tempo.Geralmente de manhã damos aulas, à tarde escrevemos e à noite, fins-de-semana e feriados dedicamo-nos à família.


16. Quanto tempo demora a escrever um livro?

Ambas – Um livro demora muito tempo a escrever. Mas varia. Entre as histórias mais rápidas está, por exemplo, Uma Aventura na Escola, que não exigiu pesquisa e ficou pronto em dois meses. O mais demorado de todos foi o Brasil! Brasil!, da colecção Viagens no Tempo, que incluiu uma viagem ao Brasil, muito tempo a estudar a História do Brasil e a ler livros e jornais brasileiros.


17. Quantas horas escrevem por dia?

Ambas – De uma maneira geral escrevemos quatro horas por dia. Quatro horas bem aproveitadas porque só conversamos um bocadinho e na pausa do lanche.


18. A que horas gostam mais de escrever?

Ambas – Ambas gostamos de trabalhar e escrever de dia. À noite é para conviver com a família e os amigos. Ambas gostamos de deitar cedo e levantar cedo.


19. As personagens da colecção Uma Aventura existem?

Ambas – As personagens de Uma Aventura foram seleccionadas entre os nossos alunos. Escolhemos as gémeas porque são vivas, despachadas, cheias de iniciativa, e além disso tinham a particularidade engraçada de serem iguaizinhas. O Pedro foi escolhido por ser um dos melhores alunos da escola, muito inteligente, muito reflectido e muito bom colega. O Chico era um aluno fraco a tudo e o melhor da escola a Educação Física. Tinha muita coragem, era forte, destemido, o ideal para um grupo aventureiro. Quanto ao João, não foi nosso aluno mas andava na escola e tinha um cão de raça pastor-alemão que um dia entrou na cantina e deixou toda a gente em pânico, incluindo nós as duas.


20. E as personagens da colecção Viagens no Tempo?

Ambas – As personagens da colecção Viagens no Tempo não existem mas são inspiradas em pessoas que conhecemos. A Ana em figuras de raparigas ajuizadas, mas corajosas, o João em rapazes estarolados sempre prontos para experiências diferentes. O Orlando é uma composição feita a partir de dois cientistas, ambos alegres e amantes de desporto.


21. Vão sempre aos locais onde se passam as histórias?

Ambas – Vamos sempre aos sítios antes de escrever a história para conhecermos locais, pessoas, tradições, lendas, experimentar sabores, cheiros, ambientes. Já fizemos imensas viagens no país e no estrangeiro para preparar histórias. Fomos a Espanha, França, Escócia, Brasil, Cabo Verde, Macau, deserto do Sara, em Marrocos, Egipto, etc.


22. Tiveram que estudar muito para escrever os livros de colecção Viagens no Tempo?

Ambas – Tivemos estudar imenso para fazer os livros de colecção Viagens no Tempo. Mas estudámos com gosto porque ambas adoramos História. Lemos textos de historiadores actuais e documentos da época que escolhemos. Em certos casos ainda vamos mais longe. Para escrever, por exemplo, O Dia do Terramoto, lemos diários de pessoas que assistiram ao terramoto e sobreviveram.

Para o livro Mataram o Rei também lemos diários e cartas de pessoas que viveram naquela altura, algumas das quais assistiram ao assassínio do rei D. Carlos. Até lemos a descrição desses momentos horrorosos feita pelo príncipe D. Manuel, que só escapou com vida porque se baixou para acudir ao irmão. Essas leituras dão-nos uma visão muito completa não só dos acontecimentos mas também dos sentimentos que desencadearam, e assim compreendemos melhor o que se passou e podemos escrever com maior segurança.


23. Como é que escrevem em conjunto?

Ambas – Escrever em conjunto não é fácil. Mas nós temos ideias convergentes e habituamo-nos a pô-las em comum.Sentamo-nos à mesa, combinamos o que houver a combinar e depois vamos escrevendo a par.


24. Quem faz as ilustrações dos vossos livros?

Ambas – Para a colecção Uma Aventura, Viagens no Tempo e Asa Delta as ilustrações são feitas por um grande artista que vive em Braga e se chama Arlindo Fagundes. Para os outros livros as ilustrações têm sido feitas por grandes artistas: o Carlos Marques e o Nuno Feijão, que vivem em Lisboa. E ainda trabalhamos com outra equipa de dois ilustradores muito criativos, a Clara Vilar e o Pedro Gonçalves. Esses ilustraram as revistas Na Crista da Onda.


25. Os netos serviram de inspiração para os vossos livros?

Ambas – Os netos serviram de inspiração sobretudo para os livros que escrevemos a pensar nos leitores mais novos. Contámos várias histórias para ver quais é que eles preferiam e que tipo de mensagens captavam mais depressa e com mais entusiasmo. Assim surgiu por exemplo A Gata Gatilde cuja mensagem é muito simples e clara: quem faz birras e trata mal os companheiros fica sem amigos. O ilustrador Nuno Feijão também fez testes com os filhos para ver que tipo de desenho lhes agradava mais e assim surgiu uma gata Gatilde cor de rosa que todos adoraram por ser gira e original.


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