31/07/2010

Arte das Coisas Simples



Como é bom aproveitar o fim da manhã, de um qualquer sábado ou domingo solarengos, para parar no mercado de Almoçageme.
Trazer pão saloio, ferraduras. Mordiscar um pão com chouriço quentinho enquanto se escolhe vegetais viçosos de cores inebriantes, gengibre e frutas. Trazer uma fiada de cabeças de alho saída das mãos de um avô.
"Os rabanetes, colhi-os hoje lá da horta" - Caramba, não é todos os dias que se ouve algo assim.

imagem: mercado de Almoçageme, fonte: net

Arte de Bem Comer: Restaurante "Adega das Azenhas", Colares, Sintra



Para quem não conhece, as Azenhas do Mar é uma aldeia no litoral do concelho de Sintra. Mesmo ao lado, a Praia das Maçãs e a Praia Grande. Não muito longe, a Praia da Adraga.
Conhecida por ser um cenário encantador e pitoresco, com o seu casario branco no estilo português suave, as piscinas escavadas na rocha e, o seu miradouro que assenta sobre arribas de onde se aprecia uma vista magnifíca do Oceano Atlântico em toda a sua amplitude.

E é à beira da estrada principal, a Avenida dos Melhoramentos, mesmo à entrada das Azenhas, com o mar pela direita, que encontramos o edifício de uma centenária adega, que desde 1999 foi transformado no restaurante Adega das Azenhas.
A decoração é rústica e pitoresca. O tecto, muito alto, forrado a madeira e, as paredes de pedra repletas de objectos decorativos, dos quais a imensa colecção de patos e patinhos de cerâmica saltam à vista, para além de objectos típicos, é bastante acolhedora.

É um restaurante onde me sinto bem quando vou na disposição de desfrutar de uma refeição sem pressas. A comida é caseira. Bem confeccionada e servida, nunca me decepcionou. Embora as especialidades sejam o bacalhau à azenha, os filetes com arroz de tomate, as costeletas de borrego, o coelho ou o cabrito à saloia, entre outras, os diversos peixes grelhados e a vitela à azenha que já provei deixaram-me plenamente satisfeita.
Quanto às sobremesas, a carta também é diversa, mas ressalto os doces conventuais como o pão de rala ou os fidalgos.
Trata-se de um local bastante procurado. Especialmente aos fins de semana é frequente encontrar pessoas à porta à espera de uma mesa, portanto aconselha-se reservar com antecedência.
O preço médio por pessoa ronda os 15 euros.



Adega das Azenhas

Avenida Comissão de Melhoramentos, 5
Azenhas do Mar
2715-105 - Sintra

Tlf. 219281357

Tipo de Cozinha: Tradicional portuguesa
Encerra: às quintas-feiras
Ambiente: Informal
Lotação: 120
Métodos de Pagamento: aceita Multibanco
Fumadores: Proibido fumar
Eventos e Grupos: Aceita
Horário de Funcionamento: Das 12.00 h às 15.30 h e das 19.00 h às 22.00 h.

imagem: Adega das Azenhas, in site da Cms.

Arte dos Símbolos: Telha

Inicio aqui mais uma temática - Arte dos Símbolos - que se dedicará, como o nome indica, à simbologia.

Telha:

"Além do significado familiar da telha, que vem do telhado, o uso deste objecto exprime-se simbolicamente na linguagem maçónica: telhar ou cobrir o templo é abrigá-lo das intempéries que resultam da invasão de profanos, das influências do exterior. Telhar o candidato à entrada é certificar-se , através de um questionário apropriado, da sua pertença ao grupo e do seu grau. Sem ser telhado ou coberto, o templo deixa entrar a chuva, daí a expressão está a chover para designar a intrusão de profanos na assembleia. a telha simboliza a protecção do segredo e, no seu sentido nocturno, o fechar à influência espiritual e às forças evolutivas, um virar-se para o adquirido e instalado. A partir daí, o segredo corrompe-se e esvazia-se de sentido."

in Dicionário dos Símbolos

30/07/2010

Arte que se ouve: "Ventura Highway", America



"Ventura Highway" é o meu tema favorito dos America. A sua melodia e harmonia lembra-me sempre dias de Verão e uma suave brisa, cabelos ao vento, uma sensação de liberdade, algo profundamente estival.


"America é uma banda britânica de folk rock muito popular no início e meio dos anos 1970 e agora mais conhecida por seus sucessos como "A Horse With No Name" e "Sister Golden Hair." Embora eles não fossem muito aceitos pelos críticos, a banda teve excepcional sucesso comercial na venda de seus dois singles e álbuns. Apesar de cantores consagrados como James Taylor e Rod Stewart fazerem parte da Warner Brothers Records o grupo que mais vendeu discos neste selo na década de 70 foi America.

História
Gerry Beckley, Dan Peek e Dewey Bunnel eram três americanos muito jovens, que na época em que foram descobertos (por Jerry Lordan), em 1970, viviam em Londres. Seu som acústico, quieto, causou surpresa e fascínio. O America teve dois grandes hits internacionais seguidos, 'A Horse With No Name' e 'I Need You', ambos tirados de America, seu primeiro álbum, de 1971. Com este álbum, venceram o Grammy de banda revelação de 1972. A música do America, então, era uma versão refinada (não melhor, porém) do folkanglo-americano de Crosby, Stills & Nash. Beckley, Peek e Bunnel tocavam e cantavam imitando (talvez não intencionalmente) Neil Young. Até meados dos anos 70, pelo menos, America foi um nome sólido, com álbuns acima da média e hits de médio impacto, como 'Tin Man' e 'Sister Golden Hair'. No Final dos anos 90, o America, com a mesma formação, ainda estava ativo, vivendo de suas antigas glórias."

in wikipedia


Site oficial: http://www.venturahighway.com/

Arte que se ouve: "Nobody's fault but mine", Beth Rowley



Quando, há pouco tempo, ouvi a versão de "Nobody's fault but mine" de Beth Rowley, estava longe de imaginar que aquela voz fantástica pertencia a uma "menina" inglesa nascida em 1981.
Os géneros bluegrass, gospel, soul, jazz e country foram as influências que serviram de base à construção do seu próprio estilo.
Cresceu a tocar guitarra, a cantar blues, e a ouvir velhos vinis de Woody Guthrie com o pai. Aos 15 anos iniciou a sua primeira banda, e aos 17 foi descoberta. Não passou despercebida e garanto-vos que é dona de uma voz hipnotizante.
"Little Dreamer" é o seu albúm de estreia e foi lançado em 2008. Incorpora o tema tradicional "Nobody's fault but mine".

Arte que se ouve: " I Cover the Waterfront", John Lee Hooker



O meu gosto musical é eclético. Acho que se deve sobretudo à minha curiosidade, à vontade de querer entender e sentir o mundo e as pessoas que nele vivem ou viveram. Ouvir música de todo o mundo é uma forma de ligação, porque a música carrega o espírito das gentes, as suas vivências. É estar perto de alguém do outro lado do planeta, ouvir-lhe as confidências.
Mas tenho que confessar que tenho um gosto especial por blues, pelos delta blues, aqueles que tiveram origem em redor do Mississipi.
Quem conhece e aprecia, há-de com toda a certeza entender-me quando afirmo que ouvir algo assim é algo de sublime. Não me lembro de música com mais profundidade e alma. E, se por vezes, um qualquer artista de outro género musical nos faz arrepiar, os blues entram até ao mais profundo das entranhas, até à espinha, até à alma.

Trago-vos "I Cover the Waterfront" interpretado por John Lee Hooker.



"John Lee Hooker (22 de agosto de 1917 - 21 de junho de 2001) foi um influente cantor e guitarrista de blues americano, nascido em Clarksdale, Mississipi.

A carreira de Hooker começou em 1948 quando ele alcançou sucesso com o compacto "Boogie Chillen", apresentando um estilo meio falado que tornaria-se sua marca registrada. Ritmicamente, sua música era bastante livre, uma característica que ele tinha em comum com os primeiros músicos de delta blues. Sua entonação vocal era menos associada à música de bar em relação aos outros cantores de blues. Seu estilo casual e falado errado seria diminuído com o advento do blues elétrico das bandas de Chicago mas, mesmo quando não estava tocando sozinho, Hooker mantinha as características primordiais de seu som.

Ele o fez, entretanto, levando adiante uma carreira solo, ainda mais popular devido ao surgimento de aficcionados por blues e música folk no começo dos anos 60 - ele inclusive passou a ser mais conhecido entre o público branco, e deu uma oportunidade ao iniciante Bob Dylan. Outro destaque de sua carreira aconteceu em 1989, quando se juntou à diversos astros convidados, incluindo Keith Richards e Carlos Santana, para a gravação de The Healer, que acabaria ganhando um Grammy.

Hooker gravou mais de 100 álbuns e viveu os últimos anos de sua vida em São Francisco, onde era dono de um clube noturno chamado "Boom Boom Room", nome este inspirado em um de seus sucessos."
in wikipedia


http://www.johnleehooker.com/

Homenagem: António Feio



Hoje, em todos os meios de comunicação, fala-se de António Feio. Fala-se da sua vida e obra enquanto actor e encenador, e da sua morte. Hoje, o luto não se faz em silêncio, mas sim, através da palavra. Neste momento é impossível conseguir aceder ao site do actor: simplesmente não comporta mais visitas. Em qualquer site noticioso, ou até blog pessoal, abunda não só a cobertura desta notícia, mas também os comentários das muitas pessoas que quiseram deixar algumas palavras de homenagem.

Desta vez não se trata de uma morte inesperada. Há um ano e meio que António Feio travava uma batalha com o cancro do pâncreas, sem nunca desistir da vida. Não por medo da morte, como confessou numa das muitas entrevistas que deu ao longo deste período, mas pelo prazer de viver.
Mesmo, com toda essa força de vontade e, a vontade colectiva de imensos admiradores e amigos a desejarem honestamente que essa sombra do cancro desaparecesse de vez, as diversas aparições televisivas ou na imprensa foram uma espécie de cronologia da doença. De foto em foto, de entrevista em entrevista, ia aparecendo um António mais marcado, de semblante mais doente e frágil, mas ainda o mesmo António.

Para mim o especial no António Feio, não era somente o seu trabalho, muito menos o facto de ser uma pessoa conhecida, famosa. Do António emanava uma simplicidade e uma humildade, algo com que nos fazia simpatizar imediatamente com ele, senti-lo como alguém que se conhece. Uma certeza de que se nos cruzássemos com ele, seríamos bem recebidos.
Para além de tudo o resto, é também digna de respeito e admiração, a forma como preparou a sua partida. Tenho a certeza que se sentiu acarinhado por todo um país.
Deixo-vos aqui a mensagem que António quis deixar ao mundo.

Crónica da Carica: O que é um bom restaurante?


Como todas as pessoas, fui desenvolvendo, ao longo da vida, a minha própria relação com a comida. Gosto de aprender sobre os alimentos, a sua confecção e sobretudo, apreciar as refeições, no que toca igualmente a sabor, companhia e ambiente. Este é simplesmente um reflexo da vida adulta. Quando o tempo livre escasseia, estes momentos ganham uma nova dimensão e um valor redobrado.
O mais engraçado é que quanto maior é o meu gosto e interesse em redor das questões gastronómicas, mais restaurantes entram na minha "lista negra".
Na minha opinião, um restaurante que apenas sirva comida não cumpre o seu papel na totalidade. Um restaurante tem o dever de servir boa comida. Sinto-me frustada quando pago para comer algo que tenho a certeza que eu faria melhor na minha cozinha, a uma fracção do preço.

Mas, afinal de contas, o que é um bom restaurante?
Quando penso nisto algumas variáveis saltam à vista, como a comida, o preço, o atendimento, o ambiente.
Acima de tudo sou uma pessoa simples. Facilmente prefiro um restaurante pouco requintado, onde nos sintamos bem acolhidos, do que um local demasiado faustoso. As melhores memórias gastronómicas que guardo vivi-as em restaurantes menos sofisticados. Algumas retenho-as desde a minha infância, como o maravilhoso cozido de grão que comia em Canal Caveira, com os meus pais, a caminho da casa dos meus avós. Ou nas idas tão frequentes, também com os meus pais, ao antigo restaurante "o Lagar", na zona saloia, onde nos esperava um saboroso cabrito à lagar.

Sou simples, mas sou exigente. Na minha perspectiva é justo esperar, ao entrar num restaurante, que a comida seja bem confeccionada, com ingredientes de qualidade e saborosa. Que o preço seja justo. Que os empregados tenham boa apresentação e saibam atender com simpatia, profissionalismo e eficiência. Que, independentemente da decoração, de mais ou menos requinte, a higiene seja levada muito a sério, inclusivé nas casas de banho. Que no caso de haver música ambiente, esta não esteja tão alta que impeça a conversação à mesa, porque ninguém se ouve. Que o espaço entre as mesas não seja tão parco, que se alguém tiver que passar no meio significa quase encostar a bunda na cara de quem está sentado.

A gastronomia é uma das expressões da cultura de qualquer país, tão válida quanto qualquer outro tipo de arte.
Se pareço exigente quanto ao que espero de um restaurante, é porque toda a vida estive cercada por bons exemplos. Para além de um tio chef, também os meus pais trabalharam no ramo da hotelaria toda a vida, colaborando em hóteis de renome. Também eu trabalhei durante alguns Verões com eles e pude aplicar aquilo que só conhecia em teoria, dos muitos manuais que encontrava lá por casa.
Enquanto empregada de mesa de um hotel de quatro estrelas, sempre tive a consciência de me apresentar com a postura que se espera de um profissional do sector, mesmo que fosse apenas uma ocupação temporária de Verão. Não tinha mais de 18/19 anos na altura, mas assumia a responsabilidade de dar ao cliente o melhor atendimento que eu poderia providenciar, com simpatia, farda sempre impecável acompanhada de um sorriso e bons modos.
Mesmo quando desempenhei esse papel numa conhecida pizzaria, continuei com a mesma postura com que servia num hotel 4 estrelas, o que era altamente apreciado pelos clientes e pela gerência. Com os meus pais como exemplo, nem poderia ser de outra forma.

A partir dessa altura foi-me muito fácil perceber o meu pai, porque motivo ele se irritava facilmente quando íamos a um restaurante, bar ou café e éramos atendidos, por quem, claramente não tinha a menor vocação nem formação para trabalhar em restauração.
Infelizmente é o que existe de mais comum por aí: estabelecimentos abertos por quem não percebe nada do que é bem servir, de como estabelecer uma boa casa. Existem honrosas excepções de pessoas que, embora não tenham a formação, têm a vocação, o gosto, sobressaem pela forma como recebem e não os imaginamos em mais lado nenhum.

Depois existem os maus casos, tão frequentes, os que vou colocando na tal "lista negra". Aqueles em que não deixamos gorjeta como protesto silencioso, para os quais esboçamos um sorriso amarelo à saída, enquanto juramos solenemente em silêncio nunca mais voltar. Aqueles que para mim são inferiores a uma bela falafel ou até um hamburger comidos no shopping.

Cá em casa estamos a caminho da cura para as más experiências gastronómicas. Um dos passos foi a jura solene de recusar todos os convites para jantares de grupo, mais especificamente aqueles jantares de aniversário com ementas pré-definidas, onde nos servem os mais que dejá vú bacalhau com natas e bifinhos com cogumelos.
O ano passado, depois de uma má experiência na praia de Carcavelos, chegámos à conclusão que já não temos, nem idade nem pachorra, para dividir doses microscópicas de comida sensaborona com uma mesa repleta de estranhos, com quem estamos colados pelos cotovelos, sem conversa possível por falta de assunto e porque o tipo do karaoke gosta demais de ouvir a própria voz. E ainda pagar uma nota pela experiência dolorosa.

28/07/2010

Arte que se lê: "Caim" de José Saramago



Hoje falo de Saramago. Também este espaço deve uma referência ao que é o Prémio Nobel da Literatura de 1998. Digo "o que é" ao invés de "o que foi", porque no caso das artes, somente o homem morre. Como todos os outros, desmaterializa-se até fazer parte da própria terra. Mas, enquanto houver gente, há memória, logo a obra fica, passa de mãos, voa por aí largando sementes.
Comecei a ler Saramago apenas há poucos anos. Confesso que me faltava a motivação para começar. Pensei que me assustaria, ou que me faltaria a paciência, com a forma de expressão pouco ortodoxa, nada formal, pela qual Saramago era conhecido. Mas acabou por ser essa sofreguidão que me fez render, essa sensação de um livro que parece apresentar-se sem espaço para inspirações nem expirações, de um só fôlego.

Escolho "Caim" sem qualquer despeito pela sua restante obra. Simplesmente porque foi um dos livros que trouxe de uma Feira do Livro este passado fim de semana.

Um excerto:

" A sua primeira morada foi uma estreita caverna, em verdade mais cavidade que caverna, de tecto baixo, descoberta num afloramento rochoso ao norte do jardim do éden quando, desesperados, vagueavam à procura de um abrigo. Ali puderam finalmente, defender-se da queimação brutal de um sol que em nada se parecia com aquela invariável benignidade de temperatura a que estavam habituados, constante de noite e de dia, e em qualquer época do ano. Abandonaram as grossas peles que os sufocavam de calor e mau cheiro, e regressaram à primeira nudez, mas, para proteger de agressões as partes delicadas do corpo, as que andam só mais ou menos resguardadas entre as pernas, inventaram, utilizando peles mais finas e de pêlo mais curto, aquilo a que mais tarde virá a chamar-se de saia, idêntica na forma tanto para as mulheres como para os homens. Nos primeiros dias, sem terem ao menos uma côdea para mastigar, passaram fome. O jardim do éden era ubérrimo em frutos, aliás não se encontrava lá outra coisa de proveito, até aqueles animais que, por natureza, deveriam alimentar-se de carne sangrenta, pois para carnívoros vieram ao mundo, haviam sido, por imposição divinam submetidos à mesma melancólica e insatisfatória dieta. O que não se sabia era donde tinham vindo as peles que o senhor fizera aparecer com um simples estalar de dedos, como um prestidigitador. De animais eram, e grandes, mas vá lá saber-se quem os teria matado e esfolado, e onde."´

http://www.josesaramago.org/

24/07/2010

Crónica da Carica: Os sisos



Os registos mais antigos da prática da odontologia datam de há 5000 anos, no Antigo Egipto. Os faraós tinham ao seu serviço dentistas e até já havia sido inventada uma receita de pasta de dentes. Muito mais tarde surgiram os "tiradentes", figuras que eram encontradas nas praças por quem precisava de retirar um dente, por vezes era mais uma função acumulada pelo barbeiro.

Paralelamente a estes, já existiam aqueles que se denominavam dentistas e que, através de constantes invenções, ajudaram à evolução da odontologia. Graças a estes últimos já não corremos o risco de nos colocarem uma tenaz na boca, e nos arrancarem três ou quatro dentes saudáveis, deixando o cariado.

Mesmo com todas as notáveis evoluções nesta área, uma mão basta-me para enumerar quem, dos meus conhecidos, não fica sem pinga de sangue só de pensar em ir ao dentista. E eu pertenço ao clube dos nada corajosos nesta matéria. De tal forma, que já nem me lembrava da data da minha última ida ao dentista.

Nos últimos anos devido a este meu medo, decidi confiar que um número diligente de escovagens diárias e uso de elixir me poupariam de males maiores. Mas desde que vi os meus vizinhos do lado, cinquentões, algo desdentados, um temor apoderou-se de mim e, quando o meu marido precisou de arranjar um dente, decidi arranjar coragem para ir com ele.

Após a primeira consulta de diagnóstico, saí feliz da clínica. Os meus dentes estavam em boas condições: cinco cáries, (nada de grave), algum tártaro que já desapareceu com uma limpeza, (algo que juro fazer sem falta de 6 em 6 meses a partir de agora), e por fim, arrancar os dentes do siso, (inclusos e que, por falta de espaço, foram fazendo pressão entortando alguns outros dentes). Também me aconselharam a usar aparelho, o que ao fim de cerca de um ano, me trará dentes absolutamente direitos e alinhados. Mas, uma coisa de cada vez...

Dia 13 saímos ambos radiantes, embora atordoados, com o sorriso imaculado que surgiu após a limpeza. Passado exactamente uma semana voltámos. Tentei preparar-me psicologicamente o melhor possível para alguém que iria arrancar os dentes do siso. O plano era esse. Torcer para que saíssem facilmente e retirar os quatro na mesma sessão, para só ter que passar uma vez pelo martírio da extração e da recuperação. E, pelo que fui lendo na internet, existem alguns que tiveram essa sorte.

Contudo, não foi o meu caso. Uma hora inteira de boca aberta, de olhos fechados, mãos cerradas a torcerem uma ponta da túnica com toda a força, lábios doridos da pressão dos instrumentos, paragens para mais uma anestesia e outra e outra. Todas as vezes em que tentava relaxar, respirar profunda e calmamente, fugir com a minha mente para outro lugar, eram constantemente frustadas por uma sensação que eu nem sabia ler como dor ou a horrível pressão de arrancar aquele malfadado dente do seu casulo. E depois ainda a busca pela raíz partida...

Mas o ser humano é fantástico na forma como se adapta a tudo. No próprio dia, e no dia seguinte, chorei, estava absolutamente arrependida de ter iniciado este tratamento, (pois que ainda faltam mais três sisos!), me custava horrores a trocar a compressa para estancar o sangue, jurava que ainda podia sentir as mesmas sensações de dor e pressão que senti aquando o procedimento, como se o meu corpo estivesse a fazer o luto por um membro perdido, as sensações de um membro fantasma.

Hoje, passados alguns dias noto que o meu espírito se vai levantando conforme vou sentido um milimétrico regresso à normalidade. É bom que assim seja, até porque na próxima terça-feira tenho consulta marcada, para retirar os pontos e quem sabe, arrancar mais um.

23/07/2010

Arte de bem comer: Choco frito à moda de Setúbal



Há anos que devia uma visita a Setúbal para provar, finalmente, o famoso choco frito que tanto as minhas amigas setubalenses elogiavam.
Basta percorrer a longa avenida Luisa Todi e fica-se sem dedos para contar a quantidade de restaurantes, muitos deles, lado a lado, com a sua esplanada, a sua oferta de peixe fresco, o empregado que nos convida a entrar e, sim, todos eles, com o famoso choco frito na ementa.
Lá nos sentámos à mesa de uma esplanada de um desses inúmeros restaurantes, quase em frente ao porto, onde turistas embarcam para Tróia. Fui avisada de antemão que deveria pedir somente meia dose de choco frito. Confesso que é um tipo de bicho que, como alguns outros, só como se vier assim "disfarçado". Um dedo de conversa e lá vem a minha meia dose de choco, enorme, acompanhada de batata frita. À parte, uma salada de tomate, alface, cebola e pimento assado. Para o marido, uma dourada escalada no ponto!
Foi uma meia dose que deu luta, pela quantidade, mas não ficou nem um pedaço. Agora também eu só tenho elogios no que se refere a este prato da gastronomia setubalense.
E, que bem que se comeu em Setúbal. Doses fartas, bom atendimento, produtos de qualidade e uma conta só de 24€.

Um projecto: 1 € - 1 Causa Animal


Confesso que demorei a aderir às redes sociais. No entanto, depois de muitos convites, acabei por me juntar também ao Facebook. Acima de tudo, por ser uma óptima forma de manter o contacto com antigos colegas de faculdade. Não tardou muito que a minha rede de amigos se alargasse com a inclusão de pessoas que nem sequer conheço pessoalmente, mas com as quais partilho elementos em comum. No meu caso, o amor pelos animais e a vontade de fazer algo em sua defesa foi o ponto comum que me levou a conhecer muita gente que muito faz neste sentido.
Não me arrependo em nada, pois sinto que é algo que veio enriquecer a minha vida. Contudo, é algo frustante e doloroso, ler tantos apelos, tantos pedidos de ajuda para salvar animais dos canis de abate, do abandono, da crueldade, da violência, de maus donos, da vida na rua, e pouco ou nada poder fazer. E, saber que esta realidade é muito mais ampla do que se lê no Facebook é aterrador.
E então, do nada, surgiu uma ideia: se todos os imensos amigos dos animais, esses imensos milhares que gostam das páginas das associações como a meritória União Zoófila, contribuissem semanalmente com 1€ para ajudar uma Causa Animal, (associação, canil, gatil, santuário), então todos juntos poderiamos fazer a diferença, ajudar os voluntários que fazem tanto pelos animais necessitados e que lutam diariamente com a falta de meios.
E foi assim que este Grupo no Facebook nasceu, a 10 de Maio de 2010 e já vamos na 7ª Causa Animal!

Link para a página de 1€ - 1 Causa Animal:
http://www.facebook.com/group.php?gid=118024238232219&v=app_2373072738#!/group.php?gid=118024238232219&v=wall

imagem: de Luciano Cavaco - logotipo do projecto

Arte que se lê: "The Complete Book of Drawing" de Barrington Barber



Ainda andava na escola primária quando o meu pai me ofereceu os meus primeiros livros que ensinavam a desenhar. Lembro-me perfeitamente que um debruçava-se sobre nus e o segundo sobre animais selvagens. Fê-lo para acarinhar e incentivar algo que nasceu comigo, da mesma forma que o fez mais tarde com a minha escrita quando me ofereceu uma máquina de escrever.
Tenho algumas memórias desse tempo e algumas são cómicas como os meus pais terem que acalmar a professora, (sobre a tal compra dos livrinhos), pois enquanto os meus coleguinhas desenhavam casinhas e sóis, eu parecia-lhe preocupadamente precoce com os meus nus.
Bem, durante muito, muito tempo, deixei de desenhar. Mas a verdade é que não poderia passar toda a vida afastada de algo que gosto mesmo, que acho que me é inato, pois não fui influenciada por ninguém para forçar o nascimento deste gosto. Mas, desenhar é como andar de bicicleta, não se desaprende mas enferruja-se.
Então, mais uma vez encontrei um livro que acredito ter estado à minha espera, como acontece com todos os únicos exemplares que alguém toca. Esse livro de Barrington Barber, chama-se "The Complete Book of Drawing - Essential Skills for Every Artist" e é fabuloso para todos os que queiram aprender a desenhar ou a melhorar as suas aptidões, independentemente do seu nível. Gostei imediatamente deste livro porque logo nas primeiras dez páginas estão explicados conceitos, como a de se usar o polegar, de forma inteligível, e que por vezes parece tão difícil a um autodidacta "sacar" essa informação. Está repleto de gravuras, explicações e exercícios de todos os níveis, para que se ganhe a confiança necessária.
Google