31/03/2008

Arte que se pinta: "A Cabeça" de Santa-Rita Pintor


Escolho hoje esta imagem, simplesmente porque sim. Porque, é uma das imagens que me prende a atenção, seja para apreciar como um todo, seja para gastar tempo perseguindo com o olhar as linhas que a perfazem. Sobretudo, é necessário falar, falar vezes sem conta na geração que marcou o início do séc. XX em Portugal. Portugal Futurista, Orpheu, Modernismo, Futurismo... época fulgurante do pensamento, que vale a pena revisitar.



"Guilherme de Santa-Rita (1889-1918), para muitos o introdutor do futurismo em Portugal – o mentor ausente e secreto – é sem dúvida um personagem misterioso e ao mesmo tempo fascinante; companheiro de Amadeu em Paris viria a ser «lançado» pelo Portugal Futurista (1) que de forma verdadeiramente sensacionalista o apresenta como o criador do futurismo em Portugal, publicando uma fotografia sua de grandes dimensões, assim bem como quatro pinturas e textos de Rebelo de Bettencourt - Santa-Rita Pintor , Raul Leal - L’abstractionisme futuriste e ainda de Almada Negreiros - Saltimbancos, dedicado exclusivamente a Santa-Rita.


Embora nestes textos, em especial nos de Rebelo de Bettencourt e Raul Leal, não apareça de forma precisa uma teoria definidora da nova corrente estética, quer seja o modernismo ou o futurismo, nem uma análise séria às pinturas de Santa-Rita, a verdade é que em termos altamente elogiosos e encorajantes se diz que Santa-Rita não se limita a reproduzir fotograficamente os objectos, mas antes a sua interpretação emocional e filosófica – tentativa de tradução da «natureza íntima das coisas». Entretanto, nos nossos dias, pouco ou nada se tem acrescentado a esses escritos do Portugal Futurista e estranhamente, apareçem até pessoas a falar de Santa-Rita, quer de uma forma absolutamente gratuita, quer revelando completa cegueira para a análise do problema, criticando o carácter sensacionalista dos estudos sobre Santa-Rita, e realçando ainda, uma quase «menoridade» e falta de importância deste pintor; ora neste caso, parece-nos evidente que, se os textos escritos – na altura – no Portugal Futurista contêm um teor mais fulgurante do que em profundidade acerca da obra do pintor – são ainda assim testemunhos bem mais interessantes e «modernos» - pela sua genuinidade e transparência vanguardista da época – do que os efectuados pelos reputados críticos da nossa era!


Exemplo disto, é o facto de José Augusto França, no seu livro O Modernismo na Arte Portuguesa afirmar que: «...a falta de uma teoria própria é evidente, como a falta de reflexão crítica sobre o fenómeno apresentado, e também a falta de criação original, quer no domínio literário, quer no artístico...»; o que este excerto nos diz, ou pretende fazer crer, é que o movimento de Arte Moderna em Portugal, do qual o Portugal Futurista era a sua aglutinação – embrionária – possível, não existiu pura e simplesmente! E que dizer, perante os termos empregues pelo mesmo crítico ao referir-se a Santa-Rita, e à sua obra:


«...ultramonárquico e reaccionário, perdeu em 1912 a bolsa do Governo que o levara a Paris, onde não conseguiu entrar na École des Beaux-Arts...»


«...uma vida pautada por uma obsessiva dedicação tanto quanto por uma suspeita “fumisterie”...»


e ainda:
«...de qualquer modo, muitos anos depois, Almada Negreiros considerá-lo-ia “um dos mais extraordinários espíritos que conheço”, e como tal, ou em tal suposição lendária, Santa-Rita terá de ficar na história do modernismo nacional...»


Aqui, é notória a falta de recursos do crítico, que se vê confrontado com o conservadorismo e o embaraço perante o facto histórico e artístico; apenas por respeito às palavras de Almada Negreiros proferidas em 1965 este «Santa-Rita», embora não devesse – ficará na história da Arte Moderna Portuguesa!! Para culminar esta série estrondosa de equívocos, este crítico referir-se-à ao quadro de Santa-Rita – Orpheu dos Infernos - pintado quando o artista completava 14 anos de idade como aluno da Escola de Belas-Artes de Lisboa , nos seguintes termos:


«....a obra é um mero “canular” de estudante de Belas-Artes...»


É pois desta forma lapidar que o crítico trata a obra de Santa-Rita, como se se tratasse de um capricho gráfico avant la letre, ou de um devaneio de adolescente que desabrocha gracioso...sem mais! Na verdade o tema abordado por Santa-Rita neste quadro, talvez não agradasse muito a J. Augusto França, uma vez que, nas suas intencões compositivas e descritivas, o artista coloca Veloso Salgado – mestre “decadentista” da Escola de Belas-Artes num Inferno – no seu Inferno - que no fundo é uma visão apologética do Inferno dos ignorantes, e como tal nele se veêm retratados todos os ditos do Portugal de então. O que de verdade nos choca, visceralmente, nestas análises superficiais e (des)interessadas de alguns críticos e historiadores da Arte Portuguesa, é o miopismo, o academismo e a relutância em aceitar ou aderir despreconceituosamente à Arte Moderna – viva e latente. As lições dos pioneiros da Arte Moderna em Portugal, a revolução dos Impressionistas, a afirmação de Picasso e dos que se seguiram, deixam mossa nalguma crítica ensimesmada, impreparada, que não sabe como reagir perante estes fenómenos, nem mesmo com a habitual e indesfarçável hipocrisia. Não se acredita no que é português, e muito menos se o vanguardismo é nosso. Em Portugal é hábito rodearem-se as grandes figuras de uma aura fantasmática – pela sua mais que incrédula atitude ou fabricada incerteza , pela sua inconveniente intromissão, e pelos danos eventuais que possam causar aos padrões estabelecidos e aos espíritos padronizados. Assim aconteceu com Camões, com Nuno Gonçalves, com Santa-Rita, com tantas, tantas e extraordinárias almas, cujo pecado maior foi o de terem nascido neste quintal de terra junto ao mar; como Fernando Pessoa ....... – só que Pessoa, já adivinhando toda esta míope e obtusa alameda ficcionista, alicerçada pela intriga social e pela competição cultural, criou a estrutura criativa dos seus heterónimos (através da sua fenomenal encenação poético-filosófica), desenvolvidos numa desmultiplicação de personalidades ímpares; Pessoa fez a vontade a quantos necessitavam de uma teia artística coerente e nacionalista, mas ultrapassando todas as fronteiras da civilização a que pertencia, veja-se o exemplo do seu «Ultimatun» ou a «Ode Triunfal» ou ainda a sua intervenção «cirúrgica anti-cristã». Jogou, intrigou, a todos deitando por terra, humilhando reflexivamente as castas conservadoras da (in)cultura portuguesa.


Acrescentemos que neste caso, nunca o poema de Almada – A Cena do ódio – deixou de ser actual, servindo hoje como barómetro da incompreensão total do meio, em relação aos jovens criadores, aos criadores em geral. E Santa-Rita? Rebelo de Bettencourt elucida-nos: «...Santa-Rita pintor tinha a obcessão da originalidade – Ah! Meu caro amigo, você não calcula como a originalidade me preocupa, é uma necessidade moral e física de ser outro eu. Eu queria falar como ninguém fala, com palavras que ninguém mais empregasse; vestir-me de outra maneira, viver numa casa como nunca existisse.»


Sublinhe-se esta definição ...a originalidade é uma necessidade moral e física de ser outro eu...Entre o SER EU de Almada, o EU NÃO SOU EU NEM SOU OUTRO de Sá Carneiro, e o SER OUTRO EU de Santa-Rita, o problema que realmente se põe é o da autenticidade conhecida e desenvolvida através da aventura poética. Neste domínio, Santa-Rita está muito próximo do SER OUTRO EU de Pessoa, cada qual utilizando os canais expressivos que corporizassem um caminho, culturalmente lúcido, rumo ao renascimento da arte em Portugal. A declaração de Santa-Rita não é «cabotina»; é a disposição para a acção, a intervenção, o convite ao abandono de todos os preconceitos. Não foi para contrariar Santa-Rita, pelo contrário, que Almada veio a dizer um dia: «...isto de ser moderno não é maneira de vestir, mas forma de ser e de sentir..». Para compreender esta geração, e o esforço que exerceu na sua época, é preciso passar para além da aparente contradição de Almada, à declaração de Santa-Rita, e aproximá-las num mesmo sentido.

Santa-Rita nunca expôs em Portugal. Através das revistas Orpheu 2 (2) e do Portugal Futurista, conhecem-se mais algumas obras, fotograficamente; dos dois quadros existentes, a um, inacabado, tem sido atribuida a data de 1910-1912, o que é plausível quando o comparamos com a colagem de 1912 reproduzida em Orpheu 2. Sendo assim, bem pode dizer-se que foi Santa-Rita o primeiro português a realizar um quadro moderno de interesse internacional; esse quadro introduz uma ironia que exige a maior atenção, uma vez que utiliza alguns processos gráficos do Cubismo picassiano, mas a sua dinamização interna situa-se para além da estética cubista, numa estruturação que se pode dizer alcança enquadramentos e raciocínios plásticos muito evoluidos.


Na sua pintura de 1913 – Orpheu dos Infernos – são já bem visíveis os índices corajosamente modernistas de Santa-Rita; nesta pintura figuram corpos, rostos, formas-cores e aeroplanos vogando na atmosfera dantesca em que está mergulhado Veloso Salgado; embora obra da sua adolescência, esta pintura revela inconfessavelmente os dotes admiráveis e a precocidade de Santa-Rita; é também de salientar a extraordinária capacidade deste artista para a composição e para o sistema já muito «adulto» com que joga as figuras, as formas e o todo do quadro. Pelo valor formal e pelo humor resultante da interpenetração de «objectos», seria talvez preferível não lhe chamar apenas futurista, mas reparar no que há já de cubismo sintético e de protodadaísmo, o que permite pedir para Santa-Rita um lugar no panorama internacional da vanguarda dessa época.


Santa-Rita interessara-se em Paris pelos futuristas e, tal como eles, talvez quisesse adoptar a linguagem cubista para a expressão da «simultaneidade dos estados de alma» mas, diferentemente deles, foi constante a sua admiração por Picasso, o que declarava incessantemente a Sá-Carneiro, chegando a desejar mais tarde que um dos números da revista Orpheu tivesse apenas reproduções de obras suas e do pintor espanhol, não esquecendo certamente o que neste há, mais do que em qualquer outro cubista, de sentido de humor e da caricatura.


No quadro Perspectiva dinâmica de um quarto de acordar de 1912, Santa-Rita opera uma grande transformação dos elementos e objectos, e por processos quase arquitecturais fragmenta, reune e «estica» este seu quarto numa síntese muito inteligente que está a pardos melhores momentos do cubismo sintético de Picasso e de Juan Gris. As formas são geometrizadas e «revolvidas» para então se incluírem elementos referenciais do mobiliário – cama, varões, janelas, mesas, etc.


É sem dúvida uma das melhores pinturas de Santa-Rita, e aquela em que demonstra um grande entendimento e aplicação da composição. A passagem do cubismo analítico ao cubismo sintético faz-se através da corporização do elemento fundamental da linguagem cubista: o plano. Essa passagem deu-se já nas obras de Braque e de Picasso, a partir do final de 1911, mantendo-se porém a rectilinearidade dos sinais gráficos.


Ora na Cabeça=Linha=Força. Complementarismo orgânico de 1913, as linhas são tensas e curvas, de modo que a forma não é «analizada» por planos, mas por representação de um entrecruzar de superfícies arqueadas, algumas das quais se alongam como fitas que na sua «torção» mostram a outra face. O sinal evidencia o corpo, humoristicamente; e, assim no aspecto mais puramente pictórico, reencontramos o que poderia ter ficado pretendido apenas intelectualmente.


No Estojo científico de uma cabeça + reflexos de ambiente + luz (sensibilidade mecânica) de 1914, as sugestões anunciadas têm uma leitura directa nos sinais gráficos da composição que se multiplicam e sobrepõem, em desenho e colagem. Santa-Rita utiliza aqui a técnica dos «papiers collés» tão utilizada pelos cubistas, mas ensaiando uma ampliação quer das técnicas de pintura, quer do conteúdo das mensagens propostas, uma vez que a introdução de objectos pré-fabricados de uso corrente estimula duplamente as formas, dando-lhes outras possibilidades dinâmicas de expressão e combinação, tendo em vista o aprofundamento das formas intutivas e a sua conjugação com as outras mais «racionais».


A produção pictórica de Santa-Rita revela-se a um tempo surpreendente e muito coerente na sua evolução, ultrapassando de quadro para quadro uma estética exclusivamente futurista de raíz italiana-francesa, para em progressão se vir a desvincular da descrição dos objectos e penetrar em linhas e cores nos terrenos das qualidades abstracto-compositivas próprias; sondando sempre com uma intenção declarada os aspectos da autonomização da cor e da concepção da composição, partindo da relação de tensões entre a cor, a linha e a arquitectura estrutural linear-geométrica.


Se se pode insistir num humor moderno que Santa-Rita terá sido o primeiro a entender e a viver, pouco preocupado com a «obra», é para melhor se poder sentir a agitação que provocou entre os seus contemporâneos e que talvez somente Amadeu de Souza Cardoso e Almada Negreiros tenham compreendido. Facto singular é o de Santa-Rita utilizar para títulos dos seus quadros longas frases descritivas segundo um código futurista pessoal, em que propõe sistemas diferentes de abordagem sensível, «radiográfica», litográfica e mecânica, ou ainda referir um «inter-seccionismo plástico» que nos faz lembrar certas experiências poéticas contemporâneas, de Pessoa e de Almada. O caso destes artistas portugueses do «século novo» é, além de tudo o mais que se possa dizer, muito importante pela voluntariedade heróica que a sua própria modernidade exigiu, pelo grande isolamento em que frequentemente se encontraram quando foram verdadeiramente inovadores, e pela incompreensão a que foram votados e que de certo modo ainda hoje persiste.


Fruto das relações entre os artistas e o mundo que os rodeia, poderemos encontrar atitudes comuns que ajudam a definir a entrada em cena desta geração «maldita»:um humor inescolar manifestado em caricaturas; um humor moderno, dadaísta quase; a obsessão pela originalidade. Almada Negreiros assumiu estas três atitudes, de um modo muito pessoal, e compreendendo muito bem a maneira como os outros as assumiram; Almada foi também o único pintor que verdadeiramente acompanhou os poetas Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro; foi ele o único poeta que entendeu e estimulou a pintura de Santa-Rita e de Amadeu de Souza Cardoso.


«Adivinhão Latino» como também lhe chamavam, Santa-Rita pintor mais ou menos tocou em várias situações mentais do seu tempo, ou as adivinhou; a sua morte precoce com apenas 29 anos, como ele próprio, veio-lhe retirar a possibilidade de «adivinhar» mais coisas; para a Arte moderna portuguesa fica a recordação viva e o testemunho vibrante do primeiro grande modernista do nosso século. O fim do decénio aproximava-se – e dois dos principais artistas deste período Amadeu e Santa-Rita estavam mortos (1918). Almada partiria em breve para Paris. Fernando Pessoa constatava que, após o período fértil de 1914-1917, tudo enfraquecera e perdera sentido. Em fins de 1919, um jornalista anónimo dava conta da dispersão do grupo e do seu fim, ou do fim da sua escola. O sonho de Fernando Pessoa de um «super-homem», de certo modo havia acabado com a morte de Santa-Rita, continuando contudo, juntamente com Almada, a lutar contra a «mediocridade» e o sentido de inferioridade do português.


Para nós, fica a memória da dimensão do sonho deste grande vulto – e símbolo – de uma juventude que acreditava firmemente na criação pura e desvinculada do artificialismo da sociedade de consumo ou da opressão cultural, ou não, entre os homens. Que sería da Arte se ela não fosse, antes de tudo, a reacção, o protesto, a recusa, a variante, a proposta nova, a resposta individual de um homem vivo, particular e único? Se a obra de Arte, ao contrário da emergência do imprevisível que é, fosse um grupo «estatístico», seria possível planificar o sonho com antecedência... ora isso sabemos que é impossível. O tributo, as dores e desesperos de Santa-Rita, Amadeu, Almada, Viana e muitos outros que sofreram para ganhar o aplauso dos ignorantes e dos adormecidos, não foi esquecido."


João do Carmo 1994
in Modernismo . Futurismo Santa-Rita pintor
pp.24 a 36 E.S.B.A.L 1983 - 1994

Arte que se lê: "A Conspiração dos Antepassados" de David Soares


Comecei ontem a ler este livro - "A Conspiração dos Antepassados" - de David Soares. Usualmente guardo as leituras para momentos antes de dormir e, creio que hoje me irei recolher mais cedo para ter mais tempo para me render a esta nova aventura.
Peguei nele, primeiro pela capa, atractiva. Rodei-o, passei à leitura da contra capa e, fiquei curiosa, como apreciadora de Fernando Pessoa que sou, que este fosse transformado numa personagem de um romance.

Conheça mais sobre o autor e a obra através desta entrevista:

"Nesta frenética rentrée, repleta de novidades para os amantes da literatura e do cinema de Horror, chega hoje às livrarias o primeiro romance de David Soares, A Conspiração dos Antepassados (Saída de Emergência). Aqueles que já apreciavam os seus contos e álbuns de BD, ou a inteligência que coloca nos ensaios que dedica aos mais diversos assuntos, vai encontrar neste livro todos os ingredientes a que já está habituado. Quem nunca leu David Soares, e quiser experimentar este romance, vai descobrir um mosaico literário de delicada artesania, composto de exaustiva pesquisa histórica, um saudável cinismo autoral e um sentido de ritmo narrativo que o manterá agarrado da primeira página até à fascinante secção final, informativa e profusamente ilustrada. Quem não estiver para aí virado, sempre poderá desfrutar do agradável aspecto gráfico do livro (do qual não resisto a destacar o tratamento dado à lombada).

A publicação deste livro dá o mote a mais esta entrevista; como bom conversador que é, acabamos por falar de muitos outros tópicos.David, depois de teres explorado várias técnicas narrativas, desde o conto ao argumento de Banda Desenhada, surge agora o salto para o romance.


Trata-se de uma história que tinha de ser contada assim, ou sentiste que já tinhas esgotado a forma curta?

O modo como uma história começa a ser formada na minha cabeça, muitas vezes começando com um cruzamento de ideias ou uma determinada imagem, diz-me, logo no início, se ela se vai tornar um conto, um álbum de BD ou, neste caso, um romance. Tudo se relaciona com aquilo que a história precisa: algumas ideias prestam-se melhor a serem contadas com palavras e imagens, outras só com palavras; não existe uma situação de esgotamento diante de um modo particular de desenvolver um enredo.

A Conspiração dos Antepassados” é um livro que me acompanhou durante muito tempo, mesmo quando, na sua fase embrionária, se resumia a dois trabalhos diferentes: uma biografia sobre Fernando Pessoa e uma biografia sobre Aleister Crowley, ambas iniciadas há quatro anos, mas, entretanto, interrompidas em virtude de outros trabalhos. No primeiro caso, tratava-se de um trabalho em spoken-word chamado “Os Quatro Elementos”, uma biografia ficcionada sobre Pessoa, com bastante hermetismo à mistura. No segundo, pensei em escrever uma trilogia em BD; comecei a escrevê-la, mas não tive sorte em encontrar um desenhador que quisesse aventurar-se numa tarefa tão grande. Esses projectos nunca saíram do meu horizonte, contudo e, mais tarde, conjugaram-se de um modo natural noutro formato. É revelador da plasticidade das histórias: quem deseja trabalhar como contador de histórias não pode olhar para as ideias como objectos estanques.Penso que tenho muita sorte enquanto escritor porque também sou um desenhador e o meu trabalho em banda desenhada é muito útil no que alude à visualização de ambientes e personagens. Em essência, vejo aquilo que escrevo com bastante clareza. É preciso esclarecer que tanto a banda desenhada como a prosa são dialectos distintos do espectro visível composto pelas linguagens narrativas: ou seja, as duas são ferramentas perfeitas para contar histórias.


Dizes no teu blogue que este livro é, até agora, o que traduz de modo mais eficaz as tuas “preocupações autorais, temáticas e ambientes”. Vertentes que se prestam deliciosamente a exploração, começando por sondar em que sentido traduz este livro que agora chega às livrarias as tuas “preocupações autorais”?

Gosto muito de escrever contos, e entendo-os como peças muito específicas, cirúrgicas, até, mas um romance é uma forma maravilhosa de brincar com aquilo que mais nos fascina porque é muito maior. Não me considero uma pessoa negra, mas o meu universo autoral é feito de imagens negras. Penso que possuo uma sensibilidade mais escura no que diz respeito à abordagem aos assuntos e é essa qualidade que se transfere para o produto final. “A Conspiração dos Antepassados” não é excepção porque contém elementos de romance histórico, de thriller, de literatura fantástica, mas, no seu âmago, é ainda um livro de horror. É um romance de horror sobre um período especial da história de Portugal, uma história de horror sobre Fernando Pessoa, Aleister Crowley e Lisboa. Penso que por ter sido escrito com a já referida sensibilidade negra em mente acabou por ficar com uma intensidade insuspeita.

Trata-se de um romance onde exploro muita coisa que me dá prazer: o estudo da história e as ciências ocultas, por exemplo. Eu sou ateu e não acredito em Deus e na existência do espírito, mas gosto muito de escrever sobre temas sobrenaturais. Apenas tento observá-los à luz do cepticismo, tento descobrir novos pontos de vista para escrever sobre eles. Acredito que existe mesmo um ponto de encontro entre a ciência e o oculto porque a maioria dos conceitos herméticos encontra um reflexo na ciência. Acho que alguns feiticeiros foram mesmo proto-cientistas, mas na ausência da terminologia da física e da química usaram a astrologia e a numerologia para descreverem as experiências e as descobertas. Estou a lembrar-me da Árvore da Vida cabalística, que cito múltiplas vezes no romance. É uma forma poética, mística, de falar sobre aquilo que os físicos e os astrónomos actuais chamam de Multiverso. O nosso universo é composto por 90% de matéria negra e uma força física chamada energia negra que concorre para o expandir, lutando contra o coice da gravidade. Os cientistas acreditam que durante esse processo de expansão o nosso universo cria universos novos, assim como nascem pequenas bolhas na superfície de uma grande bola de sabão que estejamos a soprar por uma palhinha. Isso é a Árvore da Vida: vários universos semelhantes, mas diferentes, coexistindo; brotando uns dos outros.Existem temas recorrentes no meu trabalho, certas ideias... Gosto de pensar que as minhas histórias são optimistas, mesmo assim. Acho que sou obcecado tanto por imagens de trevas como imagens de luz.


Lisboa é uma cidade normalmente associada à sua luz e é verdade que sempre se pressentiu Lisboa em toda a tua obra. Não só nos contos que fazes desenrolar aí, mas como uma personagem mais que aparece mascarada, como cidade túmulo ou como ruína graffitada. De onde provém esta paixão lisboeta?

Começou de um modo muito simples. Sempre gostei da cidade, mas quando me mudei para Campolide comecei a ler mais sobre a sua história. Principalmente, moveu-me o impulso de conhecer bem o lugar para onde tinha ido morar. Descobri que Lisboa tem uma história riquíssima, e que nem sempre é luminosa. A noção de Lisboa como “Cidade Branca” é totalmente falsa: Lisboa é vermelha e castanha, azul e amarela. É uma cidade pintada com uma paleta mediterrânica quente, mas escura. O Sol é muito enganador, basta subir até ao Castelo de São Jorge para o constatar, basta passear pelos bairros históricos para o aprender. Apesar disso, não considero Lisboa uma cidade “gótica”, como Londres. Nada disso. A escuridão de Lisboa é de outra ordem… Telúrica, talvez. A escuridão que se encontra numa cidade soterrada quando se quebra a casca estratigráfica. Lisboa é uma cidade soterrada; já o era antes do terramoto de 1755: ela é que ainda não se apercebeu disso.Agora moro em Alcântara, o que não me surpreende, pois, de uma forma ou de outra, acabo sempre por ser “atirado para aí”. É um lugar de infância onde passei várias temporadas com os meus avós, é o sítio onde encontrei o meu primeiro emprego numa agência de publicidade e, agora, é o sítio onde moro. É muito relaxante sair de casa depois do jantar e ir passear a pé até ao Mosteiro dos Jerónimos. Onde mais eu poderia espreitar pela janela e ver mais de quinhentos anos de história debaixo do nariz? É um privilégio!
Como sabes, gravei um spoken-word sobre Lisboa: é um dos meus trabalhos preferidos! Lisboa nunca me sai da cabeça enquanto escrevo. Mesmo quando escrevo sobre cidades sem nome vou roubar panoramas a Lisboa.


Não obstante, esta “Conspiração” traz a Londres das neblinas até Lisboa, aflorando a exótica Tunísia. De certa forma, são todos ambientes propícios ao fantástico. Há alguma dimensão pessoal nos loci que escolheste? Ou foram exclusivamente ditames de correcção histórica?

“A Conspiração dos Antepassados” é uma história sobre o encontro de Fernando Pessoa com Aleister Crowley, mas foi o segundo quem viajou para falar com o primeiro. Sempre considerei que esse encontro poderia servir de base para contar uma história interessante, mas apenas se fosse encontrada uma excelente razão para a ocorrência. Com isto quero dizer que o encontro real não foi muito interessante: Pessoa esteve com Crowley pouco mais que três breves vezes. Acho que Crowley gostou mais de Pessoa que Pessoa gostou de Crowley; a evolução da correspondência entre ambos é evidente. Crowley continuou a escrever cartas, inclusive uma na qual manifesta o desagrado em não ter respostas. Essa foi a última carta. Existe uma pequena circular dirigida a Pessoa que era missiva exclusiva dos membros da Argenteum Astrum, uma das fraternidades mágicas que Crowley organizou, mas dizer-se que Pessoa foi iniciado nessa ordem, ou outra, com base nesse documento é conjectural. A verdade é que ninguém sabe a verdadeira razão que fez Crowley vir a Lisboa em Setembro de 1930. A minha conclusão é que ele veio, simplesmente, em férias.

Estava a passar um mau-bocado e começavam-se a esgotar os países onde ele poderia estar. Já tinha sido proibido de entrar em Itália e na França… Acho que ele apenas quis mudar de ares e o facto de ter um correspondente em Lisboa, que ainda por cima falava inglês, pesou na decisão de vir a Portugal. Enquanto cá esteve não fez nada de traquinas: foi à praia, pintou uns quadros e passeou em Sintra e Lisboa. Só quando a namorada o abandonou é que ele procurou Pessoa com maior urgência para que o ajudasse a forjar o suicídio na Boca do Inferno. Foi nesse período que estiveram mais próximos e, logo em seguida, Crowley foi-se embora. Isto não é material suficientemente intrigante para se escrever um bom romance.
Nessa óptica, urgia encontrar um bom motivo para a viagem de Crowley e para o contacto com Pessoa. Percebi que teria de ser algo relacionado com a história de Lisboa, com a história de Portugal. Não fazia sentido escrever uma aventura onde Crowley se desloca a Lisboa em busca de um artefacto estrangeiro: tinha se ser algo especificamente português; e, ao mesmo tempo, europeu. Algo interdisciplinar que, sem deixar de ter um carácter português, comunicasse com outras histórias, com outras mitologias. A resposta era óbvia: o mito sebástico!
É a escolha perfeita porque consegue unir com elegância as mitologias de Pessoa e de Crowley e, também, servir de coluna a um romance onde eu possa falar de história e de magia. Faz sentido, do ponto de vista ficcional, colocar Crowley em busca de Pessoa porque ele era um profundo conhecedor do mito sebástico. Assim como na ciência, também na literatura as soluções mais elegantes são as melhores.


Atento o título e o teor da história que resolveste contar, receias que o público leitor possa confundir essa elegância de soluções, que muitas vezes separa a boa da má ficção, com os romances pseudo-históricos de Dan Brown ou Luís Miguel Rocha? Como encaras esse modelo literário que parece ter tomado de assalto o mercado editorial?

Penso que nas próximas décadas qualquer livro será comparado, em menor ou maior espessura, com “O Código Da Vinci”, e isso cinge-se ao impulso que os leitores têm de comparar as novidades com aquilo que já conhecem para se familiarizarem rapidamente com elas. Isso é válido para tudo, não apenas para os livros. O que se passa é que esse livro de Dan Brown foi, para o bem ou para o mal, um mastodôntico sucesso comercial. Que significa isso? Que, provavelmente, toda a gente comprou o livro, leu o livro ou ouviu falar dele. Já nem refiro aqueles que só viram o filme... Avaliando a questão desse prisma é óbvio que qualquer livro que seja editado daqui em diante será medido segundo a escala do “Código”; mas a um nível superficial. Acredito que a maioria dos leitores são mais inteligentes que isso e que são capazes de ler um livro sem necessidade dessas muletas. Romances com personagens históricas são publicados às dezenas todos os dias e já o eram antes de “O Código Da Vinci” ser editado. Pessoalmente, eu acho que o Dan Brown nunca imaginou a aberração na qual o seu livro se iria transformar e que ele apenas quis escrever um bom livro de aventuras inscrito na tradição de thrillers que o antecede.

Escrever sobre personagens históricas pode ser um exercício divertido. Eu já escrevi sobre Nietzsche e William Burroughs, adaptei o “Doutor Fausto” de Thomas Mann para banda desenhada, gravei um spoken-word sobre a história e a mitologia de Lisboa e guardo excelentes recordações do processo criativo desses trabalhos. Escrever sobre Fernando Pessoa e Aleister Crowley foi ainda mais divertido porque são, por mérito próprio, personagens maravilhosos. De qualquer das formas, eu não acho que “A Conspiração dos Antepassados” seja um romance histórico. O solo onde a narrativa é plantada é adubado com bastante rigor histórico e biográfico, claro, mas o enredo é completamente ficcionado. Depois, está recheado de elementos de literatura fantástica que costumam estar ausentes nesse género e, mais importante, tem uma intensidade, um dramatismo, que se relaciona com o facto de ter sido escrito como um livro de horror. Volto a dizer que é uma aventura negra que possui elementos de romance histórico, de thriller, de literatura fantástica e horror. Costumo dizer que acabar de escrever um romance é como ter um filho, mas quem tem um filho é muito mais sortudo porque é bastante fácil definir um recém-nascido: ou é menino ou menina. Agora... um romance?! É mais difícil definir o género de um romance. Dizer-se que um determinado título se inscreve na peugada do sucesso do “O Código Da Vinci”, e epígonos, somente porque fala sobre personagens ou acontecimentos históricos revela falta de imaginação. Trata-se de uma entidade complexa que, a fazer-lhe justiça, não pode ser classificada apenas com um rótulo. É preciso lê-lo, pensar sobre ele.


Falando em géneros, se há um género literário que, em Portugal, está em pior situação do que a ficção científica, é o Horror. Como autor, nas várias vertentes criativas, e como criador com uma “sensibilidade negra”, tens sido o único autor nacional a apresentar consistência no trabalho dentro do género. Há alguma razão para que o Horror não seja tão bem recebido entre nós?

Não sei porque é que não existem mais autores portugueses de ficção de horror ou de ficção científica, mas acho que existe um preconceito enorme dirigido a qualquer espécie de livro que tente contar uma história sem se preocupar com o simples relato de emoções, ideias ou expressões. Também existe um preconceito ainda maior voltado contra os livros que se tornem grandes sucessos comerciais: é um absurdo! A má qualidade de uma obra não se correlaciona com um número de vendas elevado nem um título que venda apenas uma centena de exemplares é, à partida, uma obra de arte. Existem livros que vendem bastante e que são muito bons e outros que não vendem nada, precisamente, porque são péssimos.

Acredito que o horror é, por excelência, o género da ruptura: é assim que eu o vejo. É um género que lida com os assuntos humanos através da transgressão, da ruptura, da noção de danação que advém do conhecimento de si. Todas estas ideias são bastante extremas e é natural que sejam, também, desconfortáveis para a maioria dos leitores. Não há nada de errado com isso... Enquanto leitor, ou espectador, gosto de obras que me provoquem, simplesmente porque gosto de aprender e as situações extremas são excelentes salas de aula para aprenderes um pouco sobre ti mesmo.

Portugal não tem géneros literários de origem, excepto o fenómeno do Novo Realismo que surgiu na segunda metade do século XX como literatura de denúncia política e social. Tudo aquilo que os nossos romancistas escreveram ou escrevem segue os modelos de ficção franceses ou anglo-saxónicos. Os “Vencidos da Vida” do século XIX copiavam os modelos deixados em aberto por romancistas ingleses como George Gissing... Acho que a nossa tradição literária se inclina para a comédia de costumes inaugurada pela Madame de la Fayette no século XVII e tudo o que se afasta desse cânone é, infelizmente, observado como sendo parte menor da literatura. Eu acho que um livro ou é bom ou não é bom, independentemente de fazer parte de uma literatura de género ou de fazer parte daquilo que é considerado pela academia como sendo a alta literatura.

Outra coisa que deve ter influenciado bastante o nosso modo de olhar para a arte deve ter sido o efeito que a tradição religiosa operou, e ainda opera. A inquisição só foi abolida em Portugal há cento e oitenta e seis anos!... Pensar que quase quatro séculos de repressão religiosa não influenciaram o nosso modo de olhar os livros é ingénuo: isso diz muito sobre o modo como a ficção de horror e a ficção científica são mal recebidas aqui e em outros mercados inseridos em países de fortes tradições religiosas.


Um autor que aborda frequentemente uma temática e uma imagética religiosa e escatológica é Clive Barker. Nota-se, na tua obra, uma marcada influência barkeriana. Se é certo que todos os autores buscam imitar os seus escritores favoritos (“retribuir-lhes o prazer da leitura”, como diria Borges), que outros autores ou cineastas te marcaram mais?

Quando escrevo não penso em nenhum autor. O que me interessa é capturar o tom da história que estou a escrever e isso é algo que apenas se aprende com a experiência da escrita, porque não pode ser ensinado de outra forma. Relaciona-se com a voz autoral, mas é uma coisa diferente. Acho que cada autor fala com uma voz distinta: as influências são os sotaques. É possível que tenha um pouco de sotaque barkeriano porque o Clive Barker é um dos meus autores preferidos.

Outro autor que gosto muito é o escritor alemão Günter Grass. Vi o filme “O Tambor”, de Volker Schlöndorff, que adapta o romance homónimo de Grass para o cinema, quando andava na segunda classe e fiquei muitíssimo impressionado. Era grotesco: nunca tinha visto nada parecido! Tinha montes de nudez e sexo, muito perverso, e era, igualmente, muito violento. Acho que a mistura de sexo com a violência, mais o ambiente negro e fantástico, me influenciou muito. Mais tarde li o livro e descobri que era ainda mais extremo que o filme.

Gosto de escrever sobre sexo e tento escrever sobre sexo como parte do horror e não como uma fuga ao horror. Acho que o sexo pode ser uma experiência aterrorizante: é um momento onde se está bastante vulnerável e onde se comunga com outro corpo, com outra mente. O sexo transforma-nos; e se não tivermos cuidado transforma-nos naquilo que não gostaríamos de ser

Gosto de muitos autores diferentes, mas quando escrevo só penso em mim: naquilo que me está a ser sugerido pela narrativa e como isso afecta o tom que desejo imprimir nas palavras. Costumo ler em voz alta para ouvir o ritmo das frases e se eu não gosto do que ouço, mudo-as. Foi algo que trouxe para a escrita depois de ter gravado o CD “Lisboa”: tento que o texto funcione como uma história contada oralmente. Acho que isso fortalece muito o resultado final porque se acaba por conseguir algo hipnótico, harmonioso. Eu gosto bastante disso! Não tenho ouvido para a música, mas penso que tenho ouvido para as letras.


E jeito para o desenho. Se te pedissem que escolhesses um livro de Horror para adaptar a Banda Desenhada, qual escolherias? E porquê?

Não me lembro de nenhum, mas a BD tem grandes obras originais de horror. O autor japonês Junji Ito é um grande exemplo: “Uzumaki” é uma das melhores obras de horror que já li; é mesmo perturbante e o final é grandioso. Sobretudo é uma obra de horror pensada para ser uma banda desenhada, com cenas imaginadas para esse formato! Penso que as adaptações em BD de romances de horror não são grande coisa, mas as histórias originais de horror em BD costumam ser bastante eficazes.

Pode-se fazer coisas assustadoras em BD... Lembro-me do álbum de Alberto Breccia com adaptações de contos de Lovecraft, mas o Breccia era um mestre! É uma obra genial com soluções gráficas brilhantes. Já a biografia em BD sobre Lovecraft que o filho Enrique Breccia desenhou deixa muito a desejar.

Acho que gostaria de ver alguém adaptar os “Contos da Chuva e da Lua”, de Ueda Akinari, porque consiste em material muito visual e ficaria perfeito se representado com algum surrealismo, algum experimentalismo abstracto. Uma espécie de Mark Rothko meets Kaneto Shindo. Cor, ambiente onírico e violência gore: eu estaria na linha da frente para os autógrafos


Terminado o primeiro romance, com vários volumes de contos e álbuns de BD no currículo, a seguir, que projectos?

Tenho muitas histórias que quero escrever, mas ainda não sei qual delas será o meu próximo trabalho. Tenho uma ideia em desenvolvimento para um grande romance sobre Lisboa, algo que quero muito fazer porque se trata de uma coisa que ainda não experimentei: um épico! Também tenho muitos argumentos de BD que quero tirar da gaveta, se encontrar desenhadores com vontade de trabalhar, porque adoro essas histórias e quero vê-las cá fora. Ainda tenho muitas ideias para contos. A verdade é que nunca consigo parar durante muito tempo. Sou um contador de histórias: sei o que sou e o que preciso de fazer para ser feliz e faço-o! Não perco tempo com coisas inúteis."

fonte: http://spaceshipdown.blogspot.com/2007/09/conspirao-dos-antepassados-uma.html

O blog de David Soares: http://sonhodenewton.blogspot.com/

29/03/2008

Arte que se lê: "O Feiticeiro e a Sombra" de Ursula K. Le Guin


Lá por se enquadrarem as obras numa categoria, não significa que estas fiquem acorrentadas à mesma. Quero eu dizer que, vale a pena, mesmo quando já não somos crianças, inspeccionar a secção de literatura juvenil, pois é bem provável que descubramos um livro que realmente nos agrade.

Foi o que aconteceu com esta tetralogia que se incia com "O Feiticeiro e a Sombra", seguindo-se dos títulos "Os Túmulos de Atuan", "A Praia mais Longínqua" e "Tehanu - O Nome da Estrela".

Quanto à autora - Ursula K. Le Guin - nasceu nos Estados Unidos da América em 1929. Senhora de talento inesgotável e versátil, aventurou-se por diferentes géneros literários desde o ensaio à poesia e até à tradução. Multipremiada em todas as vertentes da sua criatividade, distinguiu-se sobretudo como autora do fantástico.






"Numa terra longínqua chamada Terramar vive o maior de todos os arquimagos. O seu nome é Gued, mas há muito tempo atrás, ele era um jovem chamado Gavião, um ser estranho, irrequieto e sedento de poder e sabedoria, que se tornou aprendiz de feiticeiro.

Neste livro conta-se a história da sua iniciação no mundo da magia e dos desafios que teve que superar depois de ter profanado antigos segredos e libertado uma negra e pérfida sombra sobre o mundo. Aprendeu a usar as palavras que libertavam poder mágico, domou um dragão de tempos imemoriais e teve que atravessar perigos de morte para manter o equilíbrio de Terramar. No meio de um suspense quase insustentável, de encontros místicos, de amizades inquebrantáveis, de sábios poderosos e de forças tenebrosas do reino das trevas e da morte, Gued não pode vacilar, qualquer fraqueza sua fará perigar o equilíbrio que sustenta o mundo… e a sombra maléfica que ele libertou, gélida e silenciosa, só está à espera desse momento para devastar, com as suas asas negras, o mundo inteiro.
O Ciclo de Terramar é uma admirável tetralogia, por muitos comparada a clássicos como «Narnia» de C.S. Lewis ou «O Senhor dos Anéis» de J.R.R. Tolkien. Esta magnífica saga, que se tornou numa obra de referência no vastíssimo percurso literário desta escritora norte-americana, tem início com «O Feiticeiro e a Sombra». O universo de Terramar, simultaneamente tão semelhante e diferente do nosso, é, sem dúvida, uma das maiores criações da literatura fantástica, e o poder misterioso e mágico que emana da narrativa, a sensibilidade que ilumina os momentos de profunda sabedoria, a intensidade das personagens, o estilo elegante e cristalino conquistam-nos de imediato e rapidamente nos arrebata para os meandros dos seus reinos imaginários."




26/03/2008

Arte que se lê: "Novos contos da montanha" de Miguel Torga


Tudo em Miguel Torga me lembra o meu avô João. Deve ser a essência transmontana que se entranha, indissociável, em todos os que aí nascem. Até os traços finos, sulcados, no rosto do autor me remetem a essa semelhança.
Li os "Novos contos da montanha" há muitos anos atrás. Lembram-me as histórias do meu avô - os trabalhos nas minas de volfrâmio durante a II Guerra Mundial, a vida numa pequena aldeia do vale transmontano, a dureza da vida, os homens e mulheres que se fazem emperdenidos na comunhão, no entendimento com aquela natureza, a busca pelo pastor desaparecido que se decobre ter sido vítima de uma alcateia de lobos esfaimados quando acham somente os pés dentro das botas rijas. Estas eram algumas das histórias do meu avô que não estranharia ver incluídas nas palavras de Torga, pois também são contos da montanha.


"Entre o subjetivismo da geração anterior à sua e o neo-realismo da geração que surgia, Miguel Torga tornou-se uma voz singular na literatura portuguesa do século XX. Apresentando um Portugal agrário, em imagens reais, dramáticas e ao mesmo tempo líricas, os contos de Miguel Torga revelam a dura humanidade de um povo.Publicado pela primeira vez em 1944, Novos Contos da Montanha, oferece um conjunto de vinte e duas narrativas breves, centradas em personagens singulares, “duras e terrosas” como as fragas que pontuam o cenário trasmontano comum a todos estes textos e que, sabemos, continuam a ser do agrado de leitores de todas as idades. Nesta obra, como na maioria da escrita da sua autoria, o autor ficcionaliza, num registro muito peculiar (marcado pelo recurso a um tom coloquial, a uma significativa adjetivação e a diversas metáforas muito expressivas) uma realidade à qual se encontra umbilicalmente ligado, imprimindo à ação e às personagens que habitam a história um caráter profundamente humano, dramático e, de certo modo até, agônico ou desesperado"



Leia o conto - "O Caçador":



O CaçadorTrôpego, o Tafona já não chegava às perdizes da Cumieira. Por isso, arrastava-se até Pedralva e caçava de espera. Caíam rolas no cedo, uma lebre ou outra pelo ano adiante, e coelhos quase sempre. No defeso, fornecia a casa e a barriga sem fundo do compadre Frederico; no tempo da permissão, vendia-lhe a Joana Benta as caveças na Vila.


- Veja vossemecê... - dizia ele, a contratar o preço. - Eu sei lá!...


Com oitenta e cinco anos, a vida fora-lhe sempre estranha como se a não tivesse conhecido. Casara, tivera filhos, mas nada disso o tocara por dentro. Virgem e selvagem na alma, continuava a caçar, e só embrenhado entre giestas e urgueiras é que ouvia, se ouvia, os clamores da mulher e o ganido das crias.


Saía cedo, sempre supersticioso das menstruações da Camila, a vizinha do lado, que lhe mudavam a direção do chumbo, e regressava altas horas da noite, colado ao granito das paredes, e assim escondido dos olhos curiosos da povoação.


- Por onde andaste?


- A pobre da Catarina, a princípio, ainda tentou encontrar naquele destino pontos de referência em que pudesse firmar-se. Mas as respostas vinham tão vagas, tão distantes, que se atirou às leiras e deixou o homem às carquejas. Não era que ele mesmo enredasse os caminhos e despistasse conscientemente a companheira. As peripécias da caça e a cegueira com que galgava os montes é que o impediam à noite de relatar o trajeto seguido. Se quisesse e soubesse dizer por que trilhos passara, falaria de veredas e carreiros que nunca conhecera, descobertos na ocasião pelo instinto dos pés e rasgados no meio de uma natureza cósmica, verde como uma alucinação, com alguns ramos vistos em pormenor, por neles pousar inquieto um pombo bravo ou se aninhar, disfarçada, uma perdiz. Ás vezes até se admirava, ao regressar a casa, de tanta bruma e tanta luz lhe terem enchido simultaneamente os olhos. Serras a que trepara sem dar conta, abismos onde descera alheado, e um toco, um raio de sol, o rabo de um bicho, que todo o dia lhe ficavam na retina. É claro que nem sempre as horas eram assim. Algumas havia de perfeita consciência, em que nenhum pormenor da paisagem lhe escapava, as próprias pedras referenciadas, aqui de granito, ali de xisto. Mas, mesmo nessas ocasiões, qualquer coisa o fazia sonâmbulo do ambiente. Era tanta a beleza da solidão contemplada, despegava-se das serranias tanta calma e tanta vida, os horizontes pediam-lhe uma concentração tão forte dos sentidos e uma dispersão tão absoluta deles, que os olhos como que lhe abandonavam o corpo e se perdiam na imensidão. Simplesmente, essa diluição contínua que sofria no seio da natureza não excluía uma posse secreta de cada recanto do seu relevo. Uma espécie de percepção interior, de íntima comunhão de amante apaixonado, capaz de identificar o panasco de Alcaria pelo cheiro ou pelo tacto. A caça fora a maneira de se encontrar com as forças elementares do mundo. E nenhuma razão conseguira pelos anos fora desviá-lo desse caminho. A meninice começara-lhe aos grilos e aos pardais, a juventude e a maioridade passara-as atrás de bichos de pêlo e pena, e agora, velho, as contas do seu rosário eram meia dúzia de cartuchos que, sentado, ia esvaziando no que aparecia. E a vida, a de todos os dias e de toda a gente, com lágrimas e alegrias, ambições e desalentos, ficara-lhe sempre ao lado, vestida de uma realidade que que não conseguia ver. A aldeia formigava de questões e de raivas, e ele coava- lhe apenas a agitação de longe, vendo-a fumegar na distância, ao anoitecer, e acariciando-a então num cansaço doce e contemplativo.


- Casou a Dulce...


- Ah, sim?...


Ouvira, de fato, imprecisamente, a voz do sino grande chegar repenicada e festiva ao Falição, mas o seu espírito não pudera nesse momento, nem podia agora, descer da nuvem de abstração que o envolvia.


- Muito bonita ia o demônio da rapariga!


Humana, mulher, a Catarina tentava chamá-lo a uma consciência que reanimasse fogueiras mortas, sonhos desfeitos. Nada. O pensamento dele não estava ali: perdia-se nos projetos do dia seguinte, já cheio do rumor alvoroçado do bando de perdizes que sabia ir levantar da cama ao romper da manhã.


- Morreu a Palhaça...


- Ah, morreu?


E continuava a dar à manivela do rebordador, encontrando no cartucho, túmido como uma semente, não sabia que verdade mais profunda e mais transcendente do que aquela morte.


A velhice e o reumatismo tentaram com toda a brutalidade metê-lo noutros varai. Mas ele lutava, e, embora limitado às cercanias da aldeia, continuava ainda a sonhar.


Contudo, sem a liberdade absoluta dos longes, o seu espírito já não podia voar como dantes. A povoação ficava-lhe demasiado perto para lhe ser possível um alheamento como o de outrora. E os olhos, cansados e traídos, começaram a mostrar-lhe o mundo triste dos outros. Contra vontade, observava, então. Mas em casa, à noite, a mulher punha o acontecido a uma luz tão desconforme com o que ele vira, tão alheia à sua compreensão, que fechava a boca e não respondia.


- Os Canedos berraram...


- Eu vi...


- A cunhada chamou curta à Ana... O que ouvira eram gritos, evidentemente, insultos, com toda a certeza, mas nomes assim... E uma tristeza muda apertava-lhe o coração.


- Um roubo em casa do Antunes...


- Bem me pareceu...


- Batatas, trigo, muita roupa, um presunto...


Quase que surpreendera o Rodrigo e a mulher com a boca na botija, e sabia que não, que o que esconderam na mina velha, e pudera examinar à vontade, era uma sombra daquilo. De maneira que cada vez se metia mais consigo, com medo do vidro de aumento que deformava tudo e envenenava os sentimentos. Porque uma coisa sabia ele: é que quase um século de caça não lhe endurecera nem lhe empeçonhara a alma. Matara, sim, e matava ainda, se podia, mas não era com ódio, a gritar maldição, que o tiro partia. Mais amorosamente do que mortalmente, o dedo premia o gatilho. E quando, a seguir, a lebre esperneava ou a codorniz gemia, a sua mão aligeirava docemente aquela agonia, numa carícia aveludada. Entre o sangue de pertiz morta - que através do cotim da calça, morno, lhe acordava a consciência da pele - e o seu próprio sangue, não havia o muro de nenhuma desarmonia. A morte que a arma fazia tinha no mesmo instante uma ressurreição dentro dele.


Mas a aleluia do formigueiro humano que o rodeava era outra.


- A Rosária a falar em moralidade! Se reparasse na filha...


- A Matilde? Que fez ela?


- Nem tu sabes!


Palavra, que não sabia. Atravessara os anos como um duende, puro, alheio à raiva e à ganância, inocente, pronto a comover-se diante da primeira flor. Uma virtude, sobre todas, conservara sempre: a da lisa naturalidade. E por isso, no meio da incapacidade que sentia para entender o tecido de razões com que era feito o mundo que o cercava, a malha que menos o prendera era aquela onde se debatiam forças e gestos de amor. O cio, a brisa de sêmen que agitava todos os seres vivos durante alguns dias em cada ano, sabia-lhe à frescura de uma onda sagrada. Então, oleava e arrumava a arma, e os seus olhos, de caçador ainda, seguiam a revoada do casal de melros, o trajeto de um coelho, as pegadas da raposa, mas para os acompanharem comovidos naquela dádiva sensual e procriadora.


Infelizmente, só ele é que entendia de uma maneira assim inocente as coisas que tinham intimidade de ninho e calor de seiva. Porque a aldeia, que olhava compreensivamente as reses alevantadas, diante de uma rapariga cega de amores erguia-se como se visse um crime.


- Ela e o Avelino parecem cães à cainça.


- E que mal há nisso? Maiores e vacinados, que tinha que ver o mundo com o que o corpo lhes pedia? Mas os pais, aqui-del-rei que os enforcavam se olhassem sequer um para o outro, e a terra inteira aplaudia. Acontecia ainda que o Travassos, todo lá da mãe da rapariga, punha em semelhante martírio a sombra de uma perseguição.


De fora, mas infelizmente não de tão longe como desejava, o Tafona assistia à cena. Sentado à sombra da nogueira molar, e perto da poça onde vinham beber, esperava as rolas. E lá em baixo, na veiga, o seu olhar cansado ia acompanhando a comédia. A cachopa, de molho à cabeça, a passar na Silveirinha; o rapaz a deixar a rabiça na lavrada e a sair-lhe ao caminho; e o esqueleto do Travassos, abelhudo e ciumento, a correr a avisar as famílias.


Via e ficava a malucar naquilo, no contra-senso de tudo e de todos. Pois não seria melhor, mais justo, mais humano, deixá-los juntarem-se livremente, à lei da natureza? Contudo, daí a nada, a rapariga ia a toque de caixa pelo Teixo abaixo, e o rapaz retomava o arado a ouvir berros do pai.


- Uma pouca vergonha... - recomeçava a Catarina à noite, depois do caldo.


- O quê?


- O que há-de ser? A Matilde e o Avelino... Se não o Travassos...


Calou-se como de costume. Decididamente, cada vez entendia menos tal mundo.


Mas as pernas atraiçoavam-no miseravelmente, e embora quisesse fugir para muito longe, tinha de se resignar às leis da idade e caçar de emboscada coelhos pacatos na vinha velho do prior.


Era um Setembro puro. Videiras que pareciam cedros e cachos com bagos como bugalhos. Manco, o Tafona, foi-se arrastando e ainda a tarde vinha a cair além-Doiro já ele estava no seu posto, sentado, imóvel e silencioso, com a arma engatilhada sobre a coxa.


Como habitualmente, quase nem respirava. Por muito inocentes que fossem os láparos, farejavam ruído a cem léguas. E o Tafona, conhecedor daqueles ouvidos, apertava os pulmões.


A espera nunca lhe dava inteira paz de espírito. Forçava-o a uma espécie de compromisso com a parte traiçoeira da vida, estremando os campos do agredido e do agressor. Entre ele e o bicho não havia, daquela maneira, um verdadeiro encontro, um embate de forças. Tudo se passava sem alegria e sem eco, choque abafado, como o de uma pinha aberta a cair no musgo.


Subitamente começou a sentir sons indistintos. Prestou atenção. Passos. Passos de gente, e grande.


- Bolas! - disse, sem abrir a boca. De fato, perdera o tempo. Para que tudo retomasse a quietude inicial e os coelhos se resolvessem a vir gozar a fresca, seriam precisas horas, e então já não teria luz.


Os passos eram da Matilde, sorrateira, a saltar um bardo e a sumir-se na vinha.


- É boa!... - murmurou outra vez intimamente, agora noutro tom.


Mas ainda o seu espanto não acabara, já o Avelino, do lado do monte, lépido, deslizava para o meio da ramagem.


Riu-se. Desta vez riu-se com a sua mansidão habitual, sem barulho, enternecidamente, como se estivesse nos velhos tempos e visse no azul do céu dois pintassilgos a voar para o mesmo ninho.


Infelizmente, os namorados a desaparecerem, e sobre eles, de nariz no rasto, numa perseguição de rafeiro, o Travassos que, por acaso, caminhava direito à arma do caçador.


O Tafona nem teve tempo de pensar. Parou a respiração e encolheu-se quanto pôde atrás do esconderijo.


O abelhudo vinha apressado e chegou a tiro.


- Alto lá! - ordenou-lhe então, sereno, mostrando o corpo.


O Travassos estacou, apalermado. Por fim viu quem era e falou-lhe:


- Sou eu, ó ti Zé!


- Bem sei. Mas não te mexas.


- O Travassos, ti Tafona. Deixe-me ir salvar a infeliz! A tremer e de olhos esgazeados, o zeloso coscuvilheiro não conseguia perceber. Mas o Tafona tinha-lhe friamente a espingarda endireitada ao peito, e ninguém da aldeia confiava na alma solitária do caçador.


- Alto, e nem tugir nem mugir! Aquelas coisas querem-se na paz do Senhor..."

imgem: Miguel Torga

25/03/2008

Arte que se vê: Kundun de Martin Scorsese



Actualmente o Tibete está debaixo dos olhos do mundo por motivos sobejamente conhecidos, mas que nunca tinham ocupado tanto tempo de antena nos noticiários.

Acho que é então a altura propícia para focar aqui o filme "Kundun", realizado por Martin Scorsese, onde nos é dada a conhecer a vida do 14º Dalai Lama.


Embora algumas cenas se "arrastem" um pouco demais, é fácil apreciar este filme pela sua riqueza factual e imaginética. Uma das magias do cinema é este ser uma caixinha que guarda, intocável, uma história, com a finalidade desta ser dada a conhecer.


Como sou portuguesa, país onde as expressões de opinião são livres, posso com tranquilidade afirmar que, para mim, o Tibete é uma nação em si, não uma região chinesa.


SINOPSE

O destino de uma nação vive no coração de uma criança.
A admirável história do décimo quarto Dalai Lama.

Em 1937 Tenzin Gyatso, uma criança de dois anos e meio, proveniente de uma modeste família de aldeões tibetanos, foi reconhecida como sendo a décima quarta encarnação do Buda da Compaixão e escolhida para ser o chefe espiritual e político do seu país.Kundun, que significa "A Presença", retrata a história verídica dos anos de formação monástica do Dalai Lama desde a mais tenra idade até à invasão do Tibete pelas tropas da China comunista e à sua fuga para a Índia em 1959, onde ainda hoje vive em exílio.


A afeição e dedicação de Martin Scorsese ao líder tibetano está bem patente na forma como retrata a aventura de um jovem que em poucos anos atingiu a grandeza de um líder e que permanecendo sempre fiel aos seus princípios de não-violência conduziu o seu povo através de um dos periodos mais conturbados da sua história.





Veja aqui:


- Trailler - http://www.youtube.com/watch?v=dCiuVMD3lqo
- Kundun parte 1 - http://www.youtube.com/watch?v=D_cjkmYB6MA
- Parte 2 - http://www.youtube.com/watch?v=bFwn-tQzGMo&feature=related
- Parte 3 - http://www.youtube.com/watch?v=hDMGHWsIvvM&feature=related
- Parte 4 - http://www.youtube.com/watch?v=TX-IfvCE1xM
- Parte 5 - http://www.youtube.com/watch?v=OwdjAGrYmIc
- Parte 6 - http://www.youtube.com/watch?v=R3LmWl4lMXY
- Parte 7 - http://www.youtube.com/watch?v=bwUFc0I4KwQ
- Parte 8 - http://www.youtube.com/watch?v=hYMctpo8BUU&feature=related
- Parte 9 - http://www.youtube.com/watch?v=s6TvyE3_blA
- Parte 10 - http://www.youtube.com/watch?v=1tnKHRLedHw
- Parte 11 - http://www.youtube.com/watch?v=OKMmtQGN9hI
- Parte 12 - http://www.youtube.com/watch?v=uJ9tpORIbuc&feature=related

Arte que se pinta: Water serpents de Gustav Klimt












Pois é, já adivinharam. Mais uma rúbrica! Mas a pintura não poderia ficar de parte num blog sobre arte. Muitas mais rúbricas irão ser desenvolvidas, pois ainda existem muitas expressões artísticas que ainda não foram focadas aqui.

Inicio então por falar de Gustav Klimt, porque é um autor cujo trabalho considero sublime, porque sou uma apaixonada por Art Noveau.

São imensas as obras de Klimt que reconhecemos ao primeiro olhar, aliás, quantas casas não terão numa parede "O beijo", mas escolho a obra "Water Serpents II", datada de 1904-07, para ilustrar este post porque simplesmente é uma das minhas preferidas.


"Gustav Klimt (Baumgarten, Viena, 14 de Julho de 1862 - Viena, 6 de Fevereiro de 1918) foi um pintor simbolista austríaco.
Em 1876 estudou desenho ornamental na Escola de Artes Decorativas. Associado ao simbolismo, destacou-se dentro do movimento Art nouveau austríaco e foi um dos fundadores do movimento da Secessão de Viena, que recusava a tradição académica nas artes, e do seu jornal, Ver Sacrum. Klimt foi também membro honorário das universidades de Munique e Viena. Os seus maiores trabalhos incluem pinturas, murais, esboços e outros objetos de arte, muitos dos quais estão em exposição na Galeria da Secessão de Viena.



Decoração da Aula Magna da Universidade de Viena
Em 1883,com a inauguração do novo edifício da Universidade de Viena, encomendou-se a Gustav Klimt uma série de painéis que descrevessem o triunfo da luz sobre as trevas. Os afrescos deveriam ser alusivos às quatro faculdades: Teologia, Filosofia, Medicina e Jurisprudência. O primeiro painel, representando a Filosofia, foi de certa forma um choque. Em vez da descrição da Escola de Atenas,Platão ou Aristóteles, Klimt influenciado por Schopenhauer, representa o mundo como Vontade, em que os seres vagueiam.



Fase histórico-realista
A obra de Klimt passa por fases diferentes: a primeira, é marcada por um carácter histórico-realista, também associada à dualidade de Viena (realidade e ilusão). Desta época datam os desenhos para as alegorias "A Escultura" e "A Tragédia" (1896 e 1897).



O friso Stoclet e o auge do período dourado

A sua última grande pintura mural é o Friso Stoclet (1905 a 1909). Adolphe Stoclet, um magnata belga a viver em Viena com a mulher, mandou construir um palácio, deixando-o a cargo do Wiener Werkstatte ("Ateliê Vienense"), no qual se destacavam o arquitecto Josef Hoffmann e Klimt. É aqui que o pintor experimenta uma mudança no estilo, surgem os motivos geométricos repetidos, deixando aparecer apenas algumas partes essenciais realistas, que permitem o seu entendimento. Aqui é usada uma cobertura ao estilo bizantino, bastante cerrada, como mosaicos, onde o realismo e a abstracção se confrontam.
Em "O Beijo" (1907/08), baseado em si mesmo e na sua amante Emilie, a mulher fatal aparece submissa, comunica uma sexualidade latente. "O Beijo" constitui o auge do período dourado e torna-se o emblema da Secessão.
Em "Dánae" (1907/08) a sua provocação afirma-se de modo mais óbvio, junto à figura da mulher ruiva adormecida surge aquilo que muitos interpretam como uma torrente de moedas de ouro e espermatozóides.



O fim do período dourado
Na primeira década do século XX o expressionismo faz com que o estilo dourado de Klimt deixe de ser usado. Em 1909 Klimt parte para Paris onde toma contacto com as obras de Toulouse-Lautrec e com o fauvismo. A partir de então, Klimt passa a usar cenários menos elaborados, deixando de lado os motivos geométricos e a sumptuosidade do ouro. Nesta fase pinta "O Chapéu de Plumas Negras" (1910); "A Vida e a Morte" (1916); "A Virgem" (1913), surgem também pinturas de jardins, paisagens campestres e do Castelo Kammer, que reflectem as influências do cubismo que surgia então. Há a inclusão de elementos naturais (a água, a vegetação), bem como de construções.



Arte erótica

As últimas obras de Klimt voltam-se para um lado mais erótico, claramente assumido. No seu atelier passeiam-se sempre algumas modelos nuas que ele observa e vai desenhando. Daí resultam mais de 3000 desenhos. Disso são exemplo os desenhos das suas modelos em poses e atitudes mais intimas: "Mulher sentada com as coxas abertas", "Adão e Eva", "A Noiva"” e "Masturbação feminina ". Na época acusaram Klimt em Ornamentação e Crime do seu exagero erótico. Para Klimt, a ornamentação enriquece o real.



Os últimos anos
Com a morte da sua mãe em 1915 também a sua paleta se torna mais sombria, e as paisagens tendem para a monocromia. Em 1916 participa na exposição de Bund Österreichischer Kunstler na Secessão de Berlim com Egon Shiele, Kokoschka e Anton Faistauer.
Klimt morreu a 6 de fevereiro de 1918 de apoplexia, uns meses antes do colapso do Império Austro-Húngaro, e foi enterrado no Cemitério de Hietzing (Viena). Ficam por acabar "O retrato de Johanna Staude" e "A noiva"."



fonte: wikipédia



Conheça mais:

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http://www.gustavklimtcollection.com/

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http://www.ibiblio.org/wm/paint/auth/klimt/

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http://www.expo-klimt.com/

Arte que se inventa: Óculos de Robert Grosseteste e Roger Bacon


Que seria da nossa vida sem os mil e um objectos que suportam a nossa vida quotidiana? Alguns são tão importantes que, na sua ausência, a vida não seria a mesma.

Considero os óculos uma dessas invenções. Uso óculos desde os meus 3 anos de idade portanto dou uma imensa importância a esta invenção. Quem não possui uma visão perfeita sabe bem o valor deste apêndice e, as limitações que existiriam na nossa vida se ninguém se tivesse dedicado à sua invenção.


Conheça então um pouco sobre os "óculos", os seus inventores e "óptica".


"Os óculos são dispositivos ópticos utilizados para a compensação de ametropias e/ou protecção dos olhos, utilizados na parte superior da face, próximos aos olhos, mas sem entrar em contacto físico com estes, constituídos geralmente por duas lentes oftálmicas e uma armação.
Actualmente, quase todos os modelos de óculos são usados diante do rosto repousando sobre o nariz e orelhas.


História
Foram as experências em óptica de Robert Grosseteste e seu discípulo Roger Bacon que levaram à invenção dos óculos. Em 1284, as guildas de Veneza já os mencionavam e durante o século XIV o fabrico de óculos popularizou-se por toda a Europa. Nem sempre os óculos foram fabricados com a forma com que são conhecidos hoje em dia, pelo que, na antiguidade, era comum encontrar monóculos (apenas uma lente oftálmica), ou, noutros casos, apenas se usavam lentes sem armação.


Actualidade
Enquanto que os primeiros óculos eram usados principalmente para auxílio da leitura, hoje em dia os óculos são mais do que simples próteses de correcção de deformidades visuais, sendo que, são agora um dos principais acessórios de moda das sociedades modernas.
Estima-se que, a cada dia que passa, centenas de novos modelos são lançados no mercado em novas cores, designs e materiais."


fonte: wikipédia

imagem: pormenor da obra Madonna des Kanonikus Georg van der Paele


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24/03/2008

Arte que se lê: "Uma Aventura" de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada


A colecção "Uma Aventura" é incontornável quando se fala de literatura juvenil. A primeira "aventura" - "Uma Aventura na Cidade" - foi publicada pela primeira vez em 1982. Já lá vão 26 anos. A partir do dia 19 de Abril será lançada a "aventura" número 50 - "Uma Aventura no Labirinto Misterioso".

Tenho 28 anos e, para pessoas da minha geração e de todas as outras que se seguiram, esta colecção foi e será sempre responsável por cativar jovens para a leitura.

Os que agora são jovens pais, quererão certamente passar estes livros, da autoria de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada e, com ilustrações de Arlindo Fagundes, aos filhos, aos sobrinhos, a todos os que ainda são miúdos. Deixá-los, como aconteceu connosco, conhecer as gémeas Teresa e Luísa, o Pedro, O Chico, o João e, claro, o Faial e o Caracol e, sobretudo adquirir o gosto pela leitura através destas histórias sempre tão cativantes.

Se por acaso, alguém nunca folheou "uma aventura" não sabe o que perde, mas nunca é tarde, pois os adultos também não são imunes a estas histórias. São daquelas coisas que se gosta para a vida inteira.


Conheça mais a obra e as autoras através da seguinte entrevista:


"1. Quando perceberam que gostavam de escrever?

Ana Maria Magalhães – Percebi que gostava de inventar histórias mesmo antes de saber escrever.

Isabel Alçada – E eu também.


2. Quando escreveram a primeira história?

A. M. M. – Escrevi a primeira história com 9 anos para entreter um dos meus irmãos mais novos, que estava doente e não queria comer a papa.

I. A. - Escrevi a primeira história quando andava no terceiro ano, e fiquei radiante porque a professora leu alto para todos os alunos ouvirem.


3. Ser escritora era um sonho de criança?

A. M. M. – Ser escritora era um dos meus sonhos de criança.

I. A. – Eu sempre que lia um livro e gostava dizia para mim própria que havia de ser escritora.


4. Como se conheceram?

A. M. M. e I. A. – Conhecemo-nos à porta da Escola Fernando Pessoa, em Lisboa, para onde íamos ambas trabalhar pela primeira vez como professoras de Português e História. Foi em Setembro de 1976.Antes de nos apresentarmos na direcção, fomos tomar um café juntas e ficámos amigas.


5. Por que resolveram escrever juntas?

Ambas – Antes de escrevermos juntas preparámos muitas aulas em conjunto e fichas de trabalho, guias para visitas de estudo, etc. Um dia lembrámo-nos de fazer pequenas histórias para uma turma que não gostava de ler. Como resultou bem, mais tarde abalançámo-nos a escrever um livro na intenção de publicar.


6. Qual o primeiro livro que escreveram?

Ambas – O primeiro livro que escrevemos foi Uma Aventura na Cidade. Começámos em Janeiro de 1982 e foi publicado em Novembro do mesmo ano.


7. Por que é que resolveram escrever aventuras?

Ambas – Ambas gostámos sempre muito de histórias com acção e mistério.Além disso, sabemos que a maior parte dos leitores também gosta e que o género agrada igualmente a rapazes e raparigas. Como queríamos cativar para a leitura, pareceu-nos bem começar por livros de aventuras.


8. Escrevem só aventuras?

Ambas – Em 1985 começámos a colecção Viagens no Tempo e a pouco e pouco fomos escrevendo outras, como por exemplo Histórias e Lendas da Europa, os livros da colecção História de Portugal, com o apoio de historiadores famosos. Mais tarde diários para adolescentes, o Diário Secreto de Camila e o Diário Cruzado de João e Joana. Houve também um livro sobre Piratas e Corsários e sobre o Mosteiro dos Jerónimos. Escrevemos também três livros para os leitores mais pequenos, que estão a aprender a ler. Esta colecção já tem os seguintes títulos: O Crocodilo Nini, A Gata Gatilde e O Leão e o Canguru.


9. De qual das colecções gostam mais?

Ambas – Nós gostamos muito de todas as colecções e de todos os livros que escrevemos. Os leitores é que têm revelado acentuadamente preferência pela colecção Uma Aventura.


10. Têm um livro preferido?

A. M. M. – Eu tenho uma pequena preferência pelo livro Uma Aventura nas Férias do Natal, porque de certo modo é autobiográfico.A história passa-se na quinta dos meus avós em Trás-os-Montes; tudo o que acontece ao grupo aconteceu comigo, excepto encontrar bandidos.

I. A. – O meu preferido é Uma Aventura no Bosque, porque se passa em Sintra, terra de férias da minha família. E porque quando tinha doze anos assisti a um pavoroso incêndio que quase destruiu a serra e que me impressionou muito.


11. Por que é que escolheram a editora Caminho?

Ambas – Na verdade foi a Editora Caminho que nos escolheu a nós. Porque antes de irmos à Caminho mostrar Uma Aventura na Cidade fomos a três outras editoras que não quiseram publicar. Só a Caminho apostou em nós.


12. Têm filhos?

A. M. M. – Eu tenho um rapaz chamado Tiago, uma rapariga que se chama Mariana e uma neta chamada Matilde.

I. A. – Eu tenho uma filha que se chama Vera e dois netos, o Bernardo e o Gonçalo. Os nossos netos adoram O Crocodilo Nini, A Gata Gatilde e O Leão e o Canguru. Mas o Bernardo, que é o mais velho, já começou a ler «aventuras».


13. Os vossos filhos costumam ler os vossos livros?

Ambas – Os nossos filhos liam sempre os nossos livros quando eram mais novos. Agora já são adultos mas gostam de acompanhar o que as mães fazem e lêem para dar uma opinião.


14. Têm outra profissão?

A. M. M. – Eu sou professora de Português e História do 2.º ciclo.

I. A. – Eu fiz outro curso em 1984 e agora sou professora na Escola Superior de Educação de Lisboa, onde estudam futuros professores.


15. Conseguem conjugar a vida profissional com a vida familiar?

Ambas – Fazemos questão de pôr a família em primeiro lugar, apesar de trabalharmos muito. Isso obriga a uma boa organização de tempo.Geralmente de manhã damos aulas, à tarde escrevemos e à noite, fins-de-semana e feriados dedicamo-nos à família.


16. Quanto tempo demora a escrever um livro?

Ambas – Um livro demora muito tempo a escrever. Mas varia. Entre as histórias mais rápidas está, por exemplo, Uma Aventura na Escola, que não exigiu pesquisa e ficou pronto em dois meses. O mais demorado de todos foi o Brasil! Brasil!, da colecção Viagens no Tempo, que incluiu uma viagem ao Brasil, muito tempo a estudar a História do Brasil e a ler livros e jornais brasileiros.


17. Quantas horas escrevem por dia?

Ambas – De uma maneira geral escrevemos quatro horas por dia. Quatro horas bem aproveitadas porque só conversamos um bocadinho e na pausa do lanche.


18. A que horas gostam mais de escrever?

Ambas – Ambas gostamos de trabalhar e escrever de dia. À noite é para conviver com a família e os amigos. Ambas gostamos de deitar cedo e levantar cedo.


19. As personagens da colecção Uma Aventura existem?

Ambas – As personagens de Uma Aventura foram seleccionadas entre os nossos alunos. Escolhemos as gémeas porque são vivas, despachadas, cheias de iniciativa, e além disso tinham a particularidade engraçada de serem iguaizinhas. O Pedro foi escolhido por ser um dos melhores alunos da escola, muito inteligente, muito reflectido e muito bom colega. O Chico era um aluno fraco a tudo e o melhor da escola a Educação Física. Tinha muita coragem, era forte, destemido, o ideal para um grupo aventureiro. Quanto ao João, não foi nosso aluno mas andava na escola e tinha um cão de raça pastor-alemão que um dia entrou na cantina e deixou toda a gente em pânico, incluindo nós as duas.


20. E as personagens da colecção Viagens no Tempo?

Ambas – As personagens da colecção Viagens no Tempo não existem mas são inspiradas em pessoas que conhecemos. A Ana em figuras de raparigas ajuizadas, mas corajosas, o João em rapazes estarolados sempre prontos para experiências diferentes. O Orlando é uma composição feita a partir de dois cientistas, ambos alegres e amantes de desporto.


21. Vão sempre aos locais onde se passam as histórias?

Ambas – Vamos sempre aos sítios antes de escrever a história para conhecermos locais, pessoas, tradições, lendas, experimentar sabores, cheiros, ambientes. Já fizemos imensas viagens no país e no estrangeiro para preparar histórias. Fomos a Espanha, França, Escócia, Brasil, Cabo Verde, Macau, deserto do Sara, em Marrocos, Egipto, etc.


22. Tiveram que estudar muito para escrever os livros de colecção Viagens no Tempo?

Ambas – Tivemos estudar imenso para fazer os livros de colecção Viagens no Tempo. Mas estudámos com gosto porque ambas adoramos História. Lemos textos de historiadores actuais e documentos da época que escolhemos. Em certos casos ainda vamos mais longe. Para escrever, por exemplo, O Dia do Terramoto, lemos diários de pessoas que assistiram ao terramoto e sobreviveram.

Para o livro Mataram o Rei também lemos diários e cartas de pessoas que viveram naquela altura, algumas das quais assistiram ao assassínio do rei D. Carlos. Até lemos a descrição desses momentos horrorosos feita pelo príncipe D. Manuel, que só escapou com vida porque se baixou para acudir ao irmão. Essas leituras dão-nos uma visão muito completa não só dos acontecimentos mas também dos sentimentos que desencadearam, e assim compreendemos melhor o que se passou e podemos escrever com maior segurança.


23. Como é que escrevem em conjunto?

Ambas – Escrever em conjunto não é fácil. Mas nós temos ideias convergentes e habituamo-nos a pô-las em comum.Sentamo-nos à mesa, combinamos o que houver a combinar e depois vamos escrevendo a par.


24. Quem faz as ilustrações dos vossos livros?

Ambas – Para a colecção Uma Aventura, Viagens no Tempo e Asa Delta as ilustrações são feitas por um grande artista que vive em Braga e se chama Arlindo Fagundes. Para os outros livros as ilustrações têm sido feitas por grandes artistas: o Carlos Marques e o Nuno Feijão, que vivem em Lisboa. E ainda trabalhamos com outra equipa de dois ilustradores muito criativos, a Clara Vilar e o Pedro Gonçalves. Esses ilustraram as revistas Na Crista da Onda.


25. Os netos serviram de inspiração para os vossos livros?

Ambas – Os netos serviram de inspiração sobretudo para os livros que escrevemos a pensar nos leitores mais novos. Contámos várias histórias para ver quais é que eles preferiam e que tipo de mensagens captavam mais depressa e com mais entusiasmo. Assim surgiu por exemplo A Gata Gatilde cuja mensagem é muito simples e clara: quem faz birras e trata mal os companheiros fica sem amigos. O ilustrador Nuno Feijão também fez testes com os filhos para ver que tipo de desenho lhes agradava mais e assim surgiu uma gata Gatilde cor de rosa que todos adoraram por ser gira e original.


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