Para além das músicas que podem ouvir no blog, era também indispensável criar uma rubrica sobre música. Seguindo o espírito do que ando a fazer neste espaço, intitula-se "arte que se ouve". Já devem ter reparado que, em todas as rubricas que aqui tenho iniciado, tenho tido a preocupação de, pelo menos, as iniciar com algo made in Portugal, talvez com excepção dos posts sobre a História da Arte. É claro que tenciono, em todas elas, deixar-me levar até aos quatro cantos do mundo, mas achei importante que num blog escrito em português, ainda por cima sobre artes, dar a primazia a nomes maiores do meu país.
Outra das linhas com que me escrevo, é que por ser um blog, o que à partida é extremamente mais intimista que qualquer outro tipo de expressão cibernauta, a escolha do que coloco depende inteiramente do que me passa pela mente, dos meus gostos.
Falando sobre música portuguesa, era inevitável não começar com fado. O fado está-nos nos genes, quer se ouça muito ou pouco, quer se aprecie mais ou menos, existe nesta expressão um arquétipo geneticamente português. Falar de fado não é simples, porque o fado é tudo menos simples. Nele une-se uma grande voz, uma emotividade e expressão que vem da alma, a guitarra portuguesa única no mundo, muitas vezes a palavra saudade que é igualmente particular à Lingua Portuguesa. Marca-se pela forma como se canta, mas também pelo que se canta. Cantam-se os poemas de grandes expoentes da literatura. Não será exagero dizer que o fado é a união de três almas - a do poeta, a do trovador e por fim, a de quem ouve.
Poderia ter escolhido outro fado e outra ou outro fadista para iniciar esta rubrica, pois existem tantos, tantos. Mas, a mim, encanta-me a voz de Mariza, que fez com que o mundo acolhesse com grande ânimo o fado como expressão vencedora de world music, música do mundo. Igualmente, não posso esconder o meu fascínio por Fernando Pessoa. É de sua autoria o poema de "Cavaleiro Monge", explosão da vertente mística do espírito de Portugal que percorre o interior do poeta na figura de um cavaleiro monge - um templário. Agrada-me igualmente o vídeo clip, pois decorre na Quinta da Regaleira, cenário mais que adequado ao tema.
Prometo num futuro próximo falar da história do fado e, continuar a falar de música, de todos os géneros, de todas as nações.
Do vale à montanha
"Do vale à montanha,
Da montanha ao monte,
Cavalo de sombra,
Cavaleiro monge,
Por casas, por prados.
Por quinta e por fonte,
Caminhais aliados.
Do vale à montanha,
Da montanha ao monte,
Cavalo de sombra,
Cavaleiro monge,
Por penhascos pretos,
Atrás e defronte,
Caminhais secretos.
Do vale à montanha,
Da montanha ao monte,
Cavalo de sombra,
Cavaleiro monge,
Por plainos desertos
Sem ter horizontes,
Caminhais libertos.
Do vale à montanha,
Da montanha ao monte,
Cavalo de sombra,
Cavaleiro monge,
Por ínvios caminhos,
Por rios sem ponte,
Caminhais sozinhos.
Do vale à montanha,
Da montanha ao monte,
Cavalo de sombra,
Cavaleiro monge,
Por quanto é sem fim,
Sem ninguém que o conte,
Caminhais em mim."
Fernando Pessoa
24/10/1932
Veja aqui
Cavaleiro Monge: http://www.youtube.com/watch?v=LTvjdkvDZHs&feature=related
Gente da minha terra - ao vivo: http://www.youtube.com/watch?v=TeOhPR_0x8E&feature=related
Imagem de Mariza
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