03/08/2010

Arte que se visita: Mirandês - A segunda língua oficial de Portugal



Se soubisse l Padre Nuosso
Cumo sei cantar cantigas,
Andaba siempre rezando
Pu l'alma de las raparigas.

Quien quejir ir pa l cielo
Nun diga que nun ten tiempo,
Puode andar ne l sou serbício
I cun Dius ne l pensamiento.

You pedi la muorte a Dius,
El dixo que nun me la daba:
Que le pedisse la salbaçon,
Que la muorte cierta staba.

Mie Mai de l cielo balei-me,
Que la de la tierra nun puode:
La de l cielo inda stá biba
La de la tierra lhougo muorre.

Cuquelhadica amarradeira,
Nun te amarres ne l adiles:
Que ls pastores son mi malos,
Puodan-te partir ls quadriles
.



Tenho uma "costela" transmontana, o que significa que reconheço bem o espírito desta gente. São pessoas que de certo modo parecem, elas próprias, terem nascido do útero das serras, feitos da mesma rocha. Estas serras dão à luz gentes que, embora de poucas palavras, são pessoas de palavra. Sérias, teimosas, conquistadoras, trabalhadoras, empreendedoras e quase impossíveis de convencer de algo se já se tiverem decidido pelo contrário.
Para mim são os verdadeiros herdeiros de Viriato e do seu espírito.
Não me admira nada que seja então, na região Trás-os-Montes, no nordeste de Portugal, mais precisamente na terra de Miranda de Douro que tenha sido preservadaa língua mirandesa.


"Em terra de boas e ricas tradições, num canto do Nordeste português, fala-se uma língua com um corpo gramatical perfeito (fonética, fonologia, morfologia e sintaxe próprias) que, sem ser portuguesa, vem do tempo da formação de Portugal (século XII): é o mirandês ou língua mirandesa.

De raiz latina (latim falado no Norte da Península Ibérica) e fazendo parte do grupo dos dialectos leoneses, manteve-se, até hoje, por ter vivido à margem desse grupo linguístico e do país a que pertence (acasos da História e entraves geográficos). Em finais do século XIX, descrevia-a José Leite de Vasconcelos como "a língua do campo, do trabalho, do lar, e do amor entre os mirandenses".

Hoje, é usada no dia a dia por 15.000 pessoas das aldeias do concelho de Miranda do Douro e de três aldeias do concelho de Vimioso, num espaço de 484 km2, estendendo-se a sua influência por outras aldeias dos concelhos de Vimioso, Mogadouro, Macedo de Cavaleiros e Bragança

Esta Segunda língua oficial de Portugal já tem uma convenção ortográfica."


Mas, Miranda é uma terra rica em tradições próprias, em peculiares expressões na gastronomia, no artesanato, nas festas dos povoados, em usos e costumes ímpares que a tornam absolutamente inimitável e de um enorme valor.


Os Pauliteiros:

"As famosas danças dos Pauliteiros de Miranda são uma vaga reminiscência das danças pírricas dos guerreiros da Grécia antiga. Imprevista, variada e colorida, a coreografia exige grande destreza dos dançarinos. É, na verdade, uma dança essencialmente guerreira e a sua origem não é certamente nova. Ela é tão velha como o Homem na Península Ibérica. Em mangas de camisa oito homens rudes trazem flores nos chapéus de largas abas, nas costas e nos ombros, encanastrados, fitas de várias cores berrantes. Cada uma representa uma flor: a vermelha, uma rosa, a azul, uma violeta, a branca, uma açucena e a amarela representa o rei. Em cada mão um pau grosso como cabo de martelo, curto como batuta. Avançam, como se caminhassem em campo vasto, à frente de um exército e a dança rompe num arranco de corações em fogo."

Raça Mirandesa:

"A raça bovina mirandesa é a mais notável de Portugal pelas suas aptidões de trabalho, de engorda e de reprodução, e ainda por ser a que apresenta exemplares mais finos, elegantes e bem proporcionados em todos os seus membros. O boi mirandês de raça fina deve ter segundo se diz na região:
três pequenos - cabeça, testa e agulha;
três grandes - meleneira, pelindrengues e estriga de rabo;
três curtos - focinho, pescoço e perna;
três largos - tromba, nuca e «nalgas»;
e três direitos - espinhaço, cana do nariz e perna."


Burro mirandês:

"O burro mirandês é uma raça com características singulares que se encontra em vias de extinção, restam apenas cerca de mil exemplares. Isto levou a que a União Europeia (UE) a considere “raça protegida”.

Actualmente está a ser utilizado na terapia de crianças com problemas especiais. A experiência desenvolvida numa aldeia de Miranda do Douro começa a dar frutos, principalmente no que toca à relação dos mais novos com o exterior.

As características do Burro de Miranda são em resumo:

Altura elevada superando os 1,35 cm ao garrote;

Extremidades do corpo muito grande, com cabeça volumosa, orelhas grandes e fortes, cascos amplos e uma cauda longa;

Pelagem castanha escura, com gradações mais claras nos costados e face interior do tronco, branca no focinho e contorno dos olhos;

Pêlo abundante, comprido e grosso, aumentando em extensão e abundância nos custados, face, orelhas e extremidades dos membros. Crinas abundantes.

Carácter tranquilo, dócil e de grande força de tracção."



Gaita de foles (Gaita de fuôlhes):

"Instrumento tradicional de riquíssimas tradições, que emerge da mais ancestral tradição musical mirandesa. Trata-se de um instrumento de sopro típico desta região que tem um fole feito, tradicionalmente, de pele de cabra."

Posta Mirandesa:

"Nas feiras de onde é originária, era apenas assada na brasa, temperada com sal e comida com pão típico da região.

Hoje em dia, esse belíssimo naco de vitela assada, pode ser encontrado nos principais restaurantes da região, servido com batata a murro numa simbiose perfeita."



Conheça Miranda: http://www.mirandadodouro.com.pt/index.htm

Sem comentários:

Google