29/04/2011

Arte que se vê: "Inside Job", de Charles Fergunson



Não há boca no mundo que não soletre crise, que nela se debruce, se rebole, que não rumine este termo tão globalizado, a maioria das vezes sem saber do que fala exactamente.
E a ignorância é geral. Todos sabemos que a vida está mais cara, falamos de défice, questionamo-nos sobre a próxima subida de impostos, da renda da casa, do pão, dos cortes nos salários. Todos nós sentimos a crise, mas não a entendemos verdadeiramente. Sabemos que dói, mas não como surgiu este mal, esta doença que se entranhou em todo o lado.
Se forem como eu, (e eu que são pois este mundo global nos presenteia com semelhanças), hão-de sentir que quem se dirige às massas com o diagnóstico das nações, soa mais a charlatão do que a médico, que alguma coisa não bate certo.
E eis que surge este fantástico filme / documentário.

Se forem como eu, não o vão querer deixar de ver. Vão querer saber toda a verdade, independentemente das implicações. Se forem como eu, vão ficar boquiabertos, estupefactos, zangados, enojados até. Sobretudo agradecidos por haver quem nos tire a areia dos olhos, porque se a ignorância facilita a entrada no Céu católico, enquanto estamos por aqui só nos dá é chatices.

Crónica da Carica: 3D? Não, obrigado.



Uma ida ao cinema sempre foi para mim sinónimo de um bom programa. Para mim, preferível a uma ida a uma discoteca, e tão satisfatório como um jardim ou museu.
Tenho gostos simples. E nunca foi tão difícil ter gostos simples como agora. Em qualquer coisa que se busque...
É quase impossível encontrar um par de jeans que não estejam cravejados de adornos, que não sejam adelgaçantes ou tenham efeito push up, com cinturas demasiado subidas ou perigosamente descidas. Já não existem vestidos e camisolas, mas um híbrido maxi camisola/ mini vestido que assenta de uma forma descabida a quem tem mais de 12 anos. A malfadada semântica que ao dar origem ao termo "leggings" faz com que mulheres de todas as idades percam a noção do ridículo e saiam à rua em collants, convencidas que são calças. As 1500 aplicações que existem em todos os telemóveis, tornando marginal e cada vez mais difícil de efectuar a função básica para que foram inventados - as chamadas telefónicas.

No meio de tudo isto e muito mais, sugiu a tecnologia 3D, tornando tão, mas tão mais difícil retirar prazer de uma ida ao cinema. Não que eu seja uma purista: não me incomodam as pipocas, até aprecio, algum sussurrar na sala, as gargalhadas espontâneas em grupo, tudo numa dose razoável faz parte da experiência salutar do visionamento de um filme enquanto experiência em grupo. Mas não gosto do 3D nem por nada...

Não acho minimamente higiénico partilhar óculos com estranhos. Sabe-se lá em que caras, em que peles é que estes andaram. E até que ponto é que esta tecnologia é inofensiva, a dor de cabeça e de olhos, as tonturas e naúseas com que saí da minha única experiência em 3D, (jurei para nunca mais!), deixa-me a pensar o contrário.

Entristece-me sentir que, ou nos deixamos levar na maré das tendências, ou ficamos de fora. Por mais que goste de ir ao cinema, o cinema está a morrer para mim, está a deixar de fazer parte dos meus programas. Cada vez existem menos opções em cartaz para quem não quer alinhar no 3D.
Infelizmente a política de no mesmo cinema se encontrar a versão "normal" e em 3D do mesmo filme já se extinguiu, extinguindo-se a liberdade de escolha do consumidor.

Igualmente, outra consequência da tecnologia, é a diminuição da qualidade dos próprios filmes. Cada vez se dá menos importância à qualidade do argumento ou do desempenho dos actores, agora conta é inserir cenas que exibam de uma forma fantástica as potencialidades do 3D na interacção com o público, mesmo que estas não tenham qualquer ligação lógica com o filme.
Sim, porque nem todos os argumentos casam na perfeição com esta tecnologia. Embora o consiga conceber em algo como Matrix, ou Avatar, dificilmente pode ser encarada como uma panaceía a ser tomada por filmes de A a Z.

Filmes sim, mas em casa, cada vez mais.


Não sou a única a pensar assim! hehehe:
http://www.newsweek.com/2010/04/30/why-i-hate-3-d-and-you-should-too.html

27/04/2011

Arte de Bem Comer: Restaurante "O Lagar da Cerveja", Terrugem, Sintra



Fica na Av. 29 de Agosto na Terrugem. À beira da estrada, é impossível não reparar num edifício amarelo de dois pisos, simples mas bem cuidado. Recente.
Apresenta-se através de um letreiro como restaurante marisqueira "O Lagar da Cerveja".
No lugar que hoje ocupa, há muitos anos atrás, num edíficio térreo de um branco sujo e muito mais singelo encontrava-se o primeiro restaurante "O Lagar". Hoje, sobrevive apenas na memória de muitos que, como eu, rumavam a terras saloias para um cabrito à lagar.
Eu era criança, mas ficou-me na memória os almoços com os meus pais, entre rodas de carroças, pratos de barro, latoarias, artesanato e quinquilharias que enchiam as paredes e os tectos. Bocados de uma vida rural passada, uns mais sucata que outros, que agora encontravam uma nova serventia. Não só decorativa, mas também educativa, por todos os gaiatos e gaiatas, como eu na altura, que inquiriam sobre a natureza, forma e função de todos os badalos, peças e pecinhas.
Esse primeiro, morreu com o dono. Lá ficou à beira da estrada, de um branco mais sujo e com sinais mais evidentes de abandono e ruína de ano para ano.

Este novo "lagar", novo e luminoso, é de momento o meu restaurante favorito. Pelo espaço, pela comida, pelo atendimento. A comida é bem confeccionada, as doses generosas e o preço razoável. Na ementa, para além de uma boa selecção de carnes, peixes, mariscos, sobremesas, a oferta de pratos do dia é variada e também uma boa escolha.
Quanto ao preço, são semelhantes aos praticados num restaurante chinês, ou seja, em conta. Existem muitos pratos por menos de 8€, e as sobremesas menos de 2€.
É um dos únicos restaurantes onde me atrevo a fazer refeições em grupo, porque cada um pede o que quer, e é certo que todos saem satisfeitos.

A cozinha, no piso térreo, separa-se da sala somente por vidros, sendo possível observar sem qualquer constrangimento a preparação dos alimentos.
A decoração, é sóbria e acolhedora. Tem zona para não fumadores e fumadores.

Sabe-me bem ir ao Lagar. Começar por um queijo seco alentejano, e fatias de um pão verdadeiramente bom. Tudo isto de forma informal e descontraída. Continuar com um polvo à lagareiro, (e eu que sempre achei que não gostava de polvo!), um cozido à portuguesa, um bife à cortador, peixe grelhado, rolo de carne...
Não faltam opções, inclusivé quanto às sobremesas: doce da casa, doce da avó, serradura, baba de camelo... A conta final, para dois, cerca de 25€.

Site: http://www.olagardacerveja.com/inicio.php
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